O futuro da Gronelândia
Em Março de 2025, o Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) insistiu na indispensabilidade da pertença da Gronelândia à América por questões de segurança. Aliás, disse que irá até “aonde for preciso” para assumir o controlo da ilha. Irão perceber em que medida é que Trump me faz lembrar, nesta questão, o secretário de estado da administração de Woodrow Wilson, Robert Lansing, quando advertiu a Dinamarca sobre a necessidade de demonstrar responsabilidade e firmeza da protecção das Índias Ocidentais Dinamarquesas relativamente às provocações de potências notoriamente agressivas. Deixando de lado as reações dos dinamarqueses e dos habitantes do território ártico, argumentarei que o que quer Trump é consistente com um histórico de preocupação dos presidentes dos EUA com a segurança nacional e internacional. Aproveitarei também para fazer uma analogia com parte daquilo que se tem passado no Canal do Panamá, região que, décadas ter sido vendida ao Panamá, ficou sujeita à rapina de pelo menos uma potência revisionista, que é a República Popular da China.
A importância estratégica da Gronelândia
De acordo com Thomas H. Henriksen, autor do artigo “Reaching for Greenland”, publicado a 24 de janeiro de 2015 no site do Instituto Hoover, a Gronelândia é, sem dúvida, um território atractivo por pelo menos três razões: geograficamente, está muito próxima do Círculo Polar Ártico; possui recursos minerais abundantes; e é um ponto de passagem para rotas de navegação em expansão.
Segundo o site do Conselho do Ártico (Arctic Council), o número de navios que circulam na região do Ártico aumentou 37% entre 2013 e 2023, o que representa um acréscimo de 500 embarcações em números absolutos. É importante lembrar que os navios contabilizados podem ter atravessado a área mais do que uma vez por ano.
A diminuição dos níveis de gelo, ou o derretimento progressivo dos glaciares, já está a facilitar a abertura de novas rotas entre portos europeus e asiáticos. Isso representa uma oportunidade para a exploração de vantagens comerciais por diversas potências, além de poder configurar um cenário cada vez mais evidente de competição pelo domínio das vias navegáveis do extremo norte.
A China tem demonstrado um interesse cada vez mais assertivo pela Groenlândia, onde busca intensificar os seus esforços de mineração e tirar proveito das novas rotas que atravessam o Ártico. Em Novembro de 2024, Pequim e Moscovo firmaram um acordo para desenvolver conjuntamente rotas de navegação na região — medida que pode ter sido, em parte, uma resposta ao bloqueio, por parte do Pentágono, à tentativa chinesa de financiar três aeroportos na Gronelândia.
O derretimento de glaciares e das camadas de gelo deverá encorajar uma crescente exploração de petróleo, gás natural e a extração de minerais extremamente valiosos — desde que certos desafios, como limitações e atrasos tecnológicos, implicações ambientais, preocupações com a relação custo-eficiência, bem como dinâmicas políticas e legais complexas, sejam superados.
Dentre esses minerais, destacam-se o disprósio, o neodímio, o praseodímio e o térbio, altamente valorizados por sua relevância no desenvolvimento de novas tecnologias. Em particular, o neodímio e o praseodímio são essenciais na produção de ímãs utilizados em motores e geradores elétricos, presentes em turbinas eólicas e veículos híbridos. Já o disprósio e o térbio, quando adicionados aos anteriores, aumentam a força magnética, contribuindo para a durabilidade........
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