A transformação do Partido Republicano
O actual presidente norte-americano, Donald J. Trump, pertence a uma geração de Republicanos que se tenta o menos possível de respostas efetivas às principais preocupações do povo americano, especialmente das bases de apoio do seu partido, que foram cruciais, ainda na primeira década deste século, para a fundação e mobilização do Tea Party. Este movimento rebelde deve a sua existência a muitos militantes do Partido Republicano dos Estados Unidos da América (EUA), principalmente àqueles que mais se opuseram às propostas de imigração do ex-presidente George W. Bush e que fizeram lobby para que os congressistas republicanos impedissem os resgates bancários ainda avançados pelo então presidente dos EUA.
Em primeiro lugar, o Tea Party era conhecido por apoiar candidatos “anti-sistema” (ou “anti-e”), geralmente defensores de uma economia impulsionada pela oferta (“supply-side economics”) e, por vezes, apegados a teorias da conspiração, como foi o caso da discussão sobre o local de nascimento do então presidente norte-americano Barack Obama. Em segundo lugar, o movimento era contra a imigração ilegal, e muitos dos seus membros chegaram a dar parabéns ao congressista Joe Wilson por ter protestado, durante um discurso de Barack Obama no Congresso dos EUA, contra a eventualidade de imigrantes ilegais se tornarem elegíveis para as coberturas de seguro de saúde abrangidas pelo Obamacare. Por último, e aqui chegamos ao ponto mais importante para o tema que tratamos, o Tea Party era não-intervencionista e unilateral. O então senador do Kentucky, Rand Paul; o então senador do Utah, Mike Lee; e o então senador do Texas, Ted Cruz, eram críticos frequentes da intervenção dos EUA no exterior.
Além do destaque que o Tea Party teve na política norte-americana, não devemos esquecer que a candidatura do então congressista “anti-guerra” do Texas, Ron Paul (pai de Rand Paul), foi uma evidência de como muitos eleitores e militantes Republicanos, especialmente os mais jovens, desejavam afastar-se de um partido à imagem de George W. Bush. Nas palavras do jornalista norte-americano, ex-editor sênior da revista Weekly Standard, editor da revista Claremont Review of Books e escritor, Christopher Caldwell, “Paul representa um Partido Republicano diferente daquele que azedou o país com o Iraque, os deficits e a corrupção”. Tal como Pat Buchanan, que enfrentara George H.W. Bush vinte anos antes nas primárias do Partido Republicano, Ron Paul opunha-se ao “globalismo” e à política externa “neoconservadora”. Segundo Matthew Continetti, cujo tempo e esforço para escrever o livro “The Right: The Hundred-Year War for American Conservatism” agradeço, inclusive pelas informações que essa obra me forneceu (para o presente artigo e muito mais), a duração e os custos associados à Guerra do Iraque, que começara em 2003, esgotaram a paciência do público americano e de uma parte importante das bases do movimento conservador e do Partido Republicano.
A propósito do crescente ceticismo dos eleitores do Partido Republicano em relação às “aventuras no exterior”, o professor de Ciência Política da Universidade de Irvine (no sul da Califórnia), Michael Tesler, analisou algumas pesquisas de opinião realizadas entre 2022 e 2023. Essa análise encontra-se no artigo de sua autoria, “The Remarkable Rise of Isolationist Republicans”, publicado a 20 de Setembro de 2023 no Good Authority, um website norte-americano de ciência política.
Segundo uma pesquisa de rastreamento de dados da Civiqs, uma empresa de pesquisa de opinião e análise........
© Observador
