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Sobre imigração

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30.07.2025

O debate sobre imigração em Portugal não existe. Foi capturado pela retórica emocional e anti-racional da extrema-direita, que o tornou social e mediaticamente ruidoso, mas intelectualmente vazio. O que aparece como contraponto — sobretudo à esquerda ou em certos setores do catolicismo — resume-se a um moralismo piedoso, supostamente humanista, sem enquadramento prático nem solução real.

Segundo o Banco de Portugal, há cerca de meio milhão de imigrantes assalariados, o que representa 13 por cento da força de trabalho. Estão concentrados na construção, na restauração e na agricultura. O mesmo se verifica com os que estão em situação irregular. São empregos de baixa qualificação, precários, mal pagos e fisicamente exigentes.

Ao contrário do que afirma a direita, os imigrantes não vêm para Portugal em busca de subsídios. Vêm trabalhar. E só se deslocam para onde há emprego. Isto é uma constante histórica. No contexto atual, marcado pelo atraso estrutural do nosso tecido empresarial, são indispensáveis. As associações de empresários — quase sempre alinhadas à direita — protestam contra qualquer medida que limite o fluxo de mão de obra estrangeira. Precisam de pessoas para erguer o TGV e o novo aeroporto, mas também para colher abacates e servir turistas em restaurantes.

É revelador que todos — da extrema-esquerda à extrema-direita — concordem que o país precisa de imigrantes. Uns em nome da solidariedade, outros através de discursos repressivos. Mas todos os querem cá. O que raramente se discute é porquê, para quê e com que horizonte.

Portugal continua preso a um modelo económico fundado em trabalho manual, repetitivo e bruto. Nos viveiros do Alentejo colhem-se legumes à mão. Na........

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