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Uma explicação possível para derivas populistas

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13.04.2025

Gostaria que ficassem claros dois pontos prévios antes de seguir com a minha argumentação. Em primeiro lugar, este artigo não é uma apologia do fim do ensino superior nem constitui um desmerecimento do seu valor enquanto instrumento de promoção de uma maior reflexão crítica sobre a sociedade. Aliás, uma das minhas características das quais mais me orgulho é incorporar aquilo que o sociólogo Pierre Bourdieu apelidaria de “trajetórias improváveis”. No meu agregado familiar, sou a única pessoa com um diploma universitário, e na minha família mais alargada continuo na definição de caso raro. Em segundo lugar, este também não é um texto de justificação do voto nos partidos de índole extremista, nacionalista ou semelhantes, afirmando-se como uma simples tentativa de explicação de um fenómeno que não é nem novo nem exclusivo da realidade portuguesa.

A meio do parágrafo anterior referi identificar brio no meu atributo de diplomado. Um bom fator que sempre me conduziu a valorizar uma carreira educativa longa, portanto, que durasse para lá da escolaridade obrigatória, foi a postura da minha mãe. Apesar de não ter o seu “canudo”, como a própria diria, sempre fez questão de advogar que obter esta certificação era o caminho para uma vida bem-sucedida em termos de estabilidade financeira e sucesso profissional. No entanto, ainda que, de facto, um documento atestando uma especialização abra muitas portas a quem o possui, não poderá encerrar outras, criando autênticos e profundos fossos sociais? Não será este um pensamento predominantemente do passado – claro, não muito antigo, porém, já desarticulado com os tempos........

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