A tirania do moralismo
Toda a história da humanidade tem sido construída sobre um pavimento da imposição moral. Em qualquer canto da nossa existência coletiva podemos identificar a institucionalização de algum tipo de “pureza da alma” para justificar a estipulação de obrigações de conduta. Basta iniciarmos pelo período da Idade Média, no qual, através de entidades como a Inquisição ou sistemas como a Monarquia, durante muito tempo, se infundiu o mal-estar, o medo, a culpa, como estratégias de controlo social alargado. Todos tinham de cumprir os preceitos religiosos da Igreja e se submeter às vontades tiranas do Rei, porque se tratava de ordens divinas e, portanto, límpidas, demasiado poderosas para se rejeitar sem consequências.
Mais tarde, já perto do nosso tempo, os regimes autoritários do século XX demonstraram os efeitos de uma lavagem societal mascarada de cidadania requintada e decorosa. O bom cidadão era aquele que seguia o Estado a qualquer custo, sem questionar, acreditando na boa-fé dos governantes e defendendo os valores do patriotismo com unhas e dentes contra quem os pudesse alienar e derrubar. Este “quem” seriam, no fundo, os others, portanto, todos os outros que, na sua mera condição de alteridade, significavam já uma ameaça a conter. Uma vez mais, na sequência de uma........
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