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Se eu pudesse pedir ao tempo…

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26.03.2025

Se eu pudesse pedir ao tempo, não lhe pedia que voltasse atrás. Pedia que tivesse mais piedade. Que abrandasse só um bocadinho. Que se deixasse ficar mais tempo nos domingos vagarosos em casa dos avós, no cheiro do arroz de cabidela a sair da cozinha, no café da manhã com manteiga a derreter no pão ainda quente, no tilintar das chávenas e no aconchego do colo que não se apressa.

Se eu pudesse pedir ao tempo, pedia mais dessas pessoas que sabiam viver sem ecrãs, mas com a alma cheia. Gente que não precisava de mostrar fotografias para se sentir vista. Gente que não precisava de dizer que amava — porque amava nos gestos. Nos olhos. No prato posto à nossa frente. Na mantinha dobrada no sofá. No casaco que punham em cima dos nossos ombros, sem uma palavra.

A minha avó Rosa ainda se pinta com baton vermelho. Não é para ninguém ver. É para ela. Porque aprendeu, com a vida, que mesmo nos dias cinzentos é preciso encarar o mundo com firmeza e uma pontinha de vaidade digna. Gosta de se arranjar como quem escolhe viver........

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