E depois do adeus, o novo mundo que nos espera
Assistimos, entre atónitos, anestesiados ou empolgados, às imagens de uma profunda transformação do mundo, fenómeno por certo dramático, mas que os historiadores vêem no contexto inexorável e cíclico do desenrolar dos tempos. Só que, desta vez, podemos todos assistir online, a cores e ao vivo, através de ágeis media digitais, que são também agentes da revolução em curso.
Tentando fazer de conta que não é connosco, todos os dias ouvimos que estamos a dizer o adeus à paz americana que se seguiu à II Guerra Mundial, um período em que vigoraram normas e instituições que controlaram os instintos bélicos das tribos humanas. Um tempo onde floresceu o livre comércio – que nos últimos anos se tornou global no sentido planetário do termo – levando a Humanidade a produzir níveis impensáveis de riqueza e a limitar a pobreza a uma reduzida parcela da população.
Pois bem, é mesmo a esse mundo criado por Roosevelt, que estamos, neste momento, a dizer adeus e, como acontece nos momentos de viragem, a visibilidade sobre o futuro é limitada ou mesmo inexistente. Nestes momentos de desequilíbrio, a razão perde força e espaço que acabam por ser ocupados pela ansiedade e pelo medo. Não sendo possível ver o futuro, o melhor que podemos fazer é tentar compreender o presente, identificando a mecânica das diferentes peças económicas e sociais.
Afinal, onde estamos? Constanze Stelzenmüller – jurista alemã, e também jornalista e especialista em Relações Internacionais – afirmava em 2021 que o seu País, a Alemanha, apesar de ser a maior potência europeia e a terceira maior do mundo, tinha três dependências capitais: a da energia da Rússia, a do mercado da China e a do poder militar dos Estados Unidos com que a sua soberania contava. Apesar da percepção do enorme sucesso económico e político alemão, para observadores lúcidos como Constanze Stelzenmüller, as peças da máquina alemã funcionavam graças a um determinado quadro........
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