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Eduardo o Eterno Autarca

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06.06.2025

Eduardo Coutinho Andrade, mais conhecido por Eduardo era um autarca astuto, amoral, alguém claramente eficaz no teatro social. Eduardo era um cacique. Nascido próximo da década de 70 cruzou a Revolução dos Cravos enquanto a barba despontava e a voz lhe ressoava de uma caixa de fósforos. O nosso herói desde cedo intuiu que o trabalho e o esforço só modestamente podem ser recompensados. Era como se a equação para o sucesso tivesse uma constante que, acima de um dado empenho, reduzisse qualquer esforço à irrelevância. Para ele, a meritocracia teria de ser mais que isso, teria de incluir sedução, ardil e manha. E assim era Eduardo, um sedutor ardiloso pleno de manha. Enquanto adolescente em CáPelaTerrinha, um lugar sóbrio perdido nas planícies no meio de nenhures, o nosso herói soube aproveitar o PREC de então para terminar o secundário com distinção e louvor, ainda que sempre com passagens administrativas ou tarefas em grupo.

Eduardo verdade se diga, era mais um arquiteto social. “Manipulava” as pessoas, os interesses, falava-lhes à autoestima, intuía com mestria o que precisavam ouvir e, adjetivando com excelência, compunha os grupos de trabalho com sedução e engenho, deixando para os outros os aspetos mais técnicos das ciências, matemáticas e humanidades. Mesmo nas disciplinas em que se exigia alguma destreza ou capacidade física, Eduardo conseguia sempre bajular os colegas convencendo-os a superarem-se. Ao fazê-lo, estes últimos viam nele uma importância que de início o surpreendeu mas que, depois de experienciada, nunca mais lhe largou a pele. Eduardo tinha sucesso sem esforço. Ter sucesso era para ele tão natural como para nós é não o ter.

Terminado o secundário, Eduardo pressentiu que estudos posteriores eram um esforço de baixo retorno, e assim, procurando um sustento mais adequado às suas capacidades entrou, para a política como forma de fazer pela vida. Entrou para a “vida política”, e ao fazê-lo inventou o “Jotismo” muito antes de alguém saber o que isso era.

CáPelaTerrinha era um lugarejo singular. Tinha população, tinha juventude, tinha futuro, mas de uma forma ou outra, todos se conheciam ou conseguiam arquitetar um parentesco recuando não mais de duas ou três gerações. A Vila era um bom lugar para disfrutar o passar do tempo, mas não tinha paisagem capaz de conter a sua ambição. Teria de mudar de ares. E assim fez.

Ainda não tinha completado 20 anos quando conseguiu ser funcionário de um partido local. Teria é de desempenhar a atividade na sede do distrito, o que em boa verdade não era contrariedade para quem a visão ultrapassa o tudo que há para ver. Imbuído de ambição, imberbe e sem a barba cerrada que a maturidade lhe traria, mudou-se resoluto para a capital de distrito.

Burlães, era à época, na década de oitenta, uma cidade de buliço, um antro de oportunidades para todos e seguramente o foi também para o nosso jovem Eduardo. Sempre solícito, sempre bajulador, “lambia” todos os egos com que se cruzava, pois intuía, ainda que o não soubesse, que para chegar à posição de “lambido” há que “lamber” muito até se lhe ganhar o jeito, o gosto e a necessidade.

Ao nosso Eduardo não lhe foi difícil subir na hierarquia do partido. Não fazia grande coisa, mas era visto, não por todos, mas por quem era importante, como alguém disponível, agradável e solícito. E fazia-o com um sorriso e a humildade própria de quem nisso antecipa alguma vantagem. Era à época uma personagem agradável, cativante, alguém com quem se tem empatia de uma forma natural e sem qualquer esforço.

O líder do partido tinha uma filha de uma primeira esposa, uma Eslava que segundo me relataram terá morrido muito jovem. E foi esta filha, à altura em idade casamenteira, que tomou por trilho seguro para o sucesso. Contudo, havia um problema que complicava a relação. A moçoila tinha um pacto com beleza –........

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