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A Ordem dos Médicos e o seu Multiverso Geracional

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29.05.2025

A humanidade está numa permanente procura de respostas que muitas vezes são rastilho de uma tensão sempre latente entre “gerações”. Uma latência que se alimenta das diferentes formas de pensar, ou da inevitável “diferença de idades”. O velho tem de dar lugar ao novo e se o não faz pelo seu próprio pé, acaba vítima da segregação que gerou e da turba de excluídos que acumulou na soleira da porta. Quando o conflito se entusiasma, o velho sai com estrondo e, não raras vezes, retira-se humilhado pela porta pequena da história.

Os jovens quase sempre simbolizaram a mudança, o rompimento com normas antigas, a inspiração em novas ideias e a aspiração por outros modelos de vida. Neste turbilhão, os mais velhos representam a prudência perante a vertigem da novidade – ideia bem patente na figura Camoniana dos “Velhos do Restelo”. Porém, para além de ponderação, estabilidade ou experiência, este arquétipo sempre representou, para o bem e para o mal, uma forma “vetusta” de preservação dos valores consolidados. Esta resistência provocou em múltiplos momentos confrontos aguerridos e esteve na génese de muitas transformações culturais, políticas e sociais – vide a Revolução Francesa, o movimento estudantil de Maio de 1968 entre outros.

O conflito de gerações, o sair de cena, com o velho a dar lugar ao novo, é uma constante da sociedade, e sendo “uma coisa humana”, era inevitável que fosse tema num mundo literário onde obras como Rei Lear, Hamlet, Crime e Castigo, Os Irmãos Karamazov e Os Maias, são seguramente exemplos incontornáveis.

Contudo, e apesar destes conflitos serem um “lugar comum”, os choques geracionais nunca se estenderam num dado momento por mais de dois grupos, o novo e o velho. Eram conflitos dicotómicos, e isso é essencialmente o que mudou nos novos tempos. Se antes era possível encontrar um ponto equidistante entre as perspetivas, hoje, esse exercício é um equilíbrio muito mais difícil.

Com o aumento da esperança média de vida e a acessibilidade permitida pelas tecnologias de informação, no primeiro quartil do século XXI coexistem num dado espaço temporal várias gerações com distintas formas de “ser”, “ver” e “querer”, i.e., diferentes realidades sociais.

Tanto a Sociologia como a Psicologia do Desenvolvimento apontam na actualidade para a coexistência de seis gerações com características diversas, diferentes valores e distintas formas de pensar – “Silent Generation”, “Baby Boomers”, “Geração X”, “Millennials”, “Geração Z” e a “Geração Alfa”. Este “multiverso geracional” provoca linhas de fratura que vão muito além da dicotomia entre conservadorismo e inovação. As novas gerações de “hoje”, ao contrário das “novas” de outrora, já não se limitam a desafiar regras ou a propor reformas ou revoluções. Colocam muito mais em causa a própria legitimidade e utilidade das instituições, questionam a autoridade de uma forma muito mais estrutural e, em vez de procurarem uma transformação interna ou convulsionada, optam por afastar-se. Este afastamento — seja de partidos, sindicatos, ordens profissionais ou instituições religiosas — faz com que muitas destas estruturas tradicionais definhem e percam a sua relevância social.

Os nascidos entre a grande depressão e o fim da IIGM, hoje com 75 ou mais anos, são os da geração conhecida por “Silent Generation”, ou “Builders” noutras longitudes. É um grupo marcado pela guerra e escassez, um grupo que valoriza, talvez fruto desse contexto, a disciplina, o trabalho, a lealdade à empresa, o respeito à autoridade e são, por regra, dotados de um elevado conservadorismo social.

A geração que lhes sucedeu, os “Baby Boomers” foram marcados por um crescimento económico e expostos a algumas tecnologias modernas durante a sua juventude. Esta franja foi alimentada pelo otimismo de então, a luta por ideais e um ativismo político genuíno. É uma geração que valoriza a estabilidade num emprego que vê com uma ética rígida e como forma de realização pessoal e profissional.

A geração seguinte, os nascidos entre 1965 e 1980, foram marcados pela crise do petróleo da década de 70, o auge da guerra fria e o início da tecnologia de uso pessoal. É um grupo marcado pelo fim do otimismo de um crescimento que tudo permitia sonhar. É a geração do fim dos “Cachos........

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