A Cebola e o “Admirável Mundo Novo”
Há algumas semanas assisti um evento repleto de significado e simbolismo. Havia celebrados e motivos de celebração. Era um acontecimento público, mas não um daqueles a que se acedesse por interesse ou curiosidade. Quem lá ia tinha um motivo e ninguém o fazia sem convite. Não estranhei assim que aquele magnífico espaço estivesse repleto de figuras, todas notáveis, todas quantas uma esmerada assessoria viu como incontornáveis ou de potencial interesse para o evento em causa.
As salas e os jardins luxuosos eram um oásis no centro de uma Lisboa cosmopolita, irrespirável e suja. Trespassar a entrada era avançar pelo glamour de escadarias trabalhadas como numa versão macro da filigrana portuguesa e os soalhos estavam forrados de alvos mármores. Todo o espaço interior era elegantemente aconchegado por paredes revestidas com entalhes de madeiras exóticas e os jardins eram verdes e refrescantes como devem ser todos os jardins num fim de tarde estival. Passar os muros da propriedade era entrar num espaço envolto por uma “membrana” que, como todas as homónimas, era seletiva nos acessos, mas bem menos escrupulosa no que rejeitava.
À cerimónia assistiu toda uma babel de personalidades de vulto, porém, a presença destes não surgia pela celebração em si, mas por um simbolismo da representação de algo que ali tinha de estar visível. Estavam claramente e atrevo-me a dizer, mais presentes pelo símbolo que pela grandiloquência do cerimonial.
E cada um com o seu símbolo, um símbolo que ostentavam com denodo. Não um símbolo físico como um vulgar dístico na lapela, mas um que se intuía na atitude pós-moderna e performativa de apenas se ser o que os outros veem em nós. Porém, e porque era o símbolo o que a todos movia, alinhavam-se, não por conveniência, amizade ou atração, mas pela “casta” a que pertenciam. Cada um na sua, cada um num patamar que intuíam como “o seu”, um patamar onde a admissão resultava de um discreto assentimento tácito. Não havia regras, normas escritas, ética de circunstância, mas todos sabiam qual o seu lugar.
No topo da hierarquia era possível identificar os símbolos máximos, os que hão de levar para a tumba o título de “Presidente”........
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