Vergonha e enxovalho – “Português?... Não temos.”
Vale a pena ver o vídeo, para perceber bem o que se passou e guardar plena memória visual desta vergonha. Vi-o numa oportuna partilha de Paulo Sande e guardei-o para memória futura. É bom que todos o guardemos. É um marco.
Na conferência de imprensa final de um encontro com a Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, o ministro das Relações Exteriores de Angola, Tete António, quis falar em português. E perguntou-o em português: “Não sei se posso falar em português…”. Não obtendo reacção, repetiu a pergunta, falando agora em inglês: “Is it fine if I speak in Portuguese?”. Ouve-se a voz, sumida e embaraçada, de Kaja Kallas, a dizer que “they don’t have Portuguese”, enquanto, da plateia, gritam que só “french or english”. O ministro angolano aceita a contingência e a Alta Representante, de novo sumida e embaraçada, deixa um pedido de desculpas: “Sorry about that.” Ver o vídeo é hilariante, se abstrairmos de que o que mostra é a UE a rebaixar a língua portuguesa.
Quando Kaja Kallas murmurava “eles não têm português”, o “eles” era ela mesmo, pois, naquele acto, era ela que “Alto-Representava” a UE que assim agia. Uma inapagável vergonha e um enorme embaraço. O ministro angolano, segundo as notícias, estava também como responsável pelo conselho executivo da União Africana – neste ano, a União Africana está sob presidência de Angola, pelo seu Presidente da República, João Lourenço. Ou seja: naquele acto final, a União Africana podia falar em português (e tentou fazê-lo), mas a União Europeia não quis nem sequer ouvir português (e bloqueou-o).
O facto de Portugal (pai da língua que a União Africana queria usar) ser membro da União Europeia, não tem a menor relevância. E não a tem porque Portugal, através das suas autoridades e representantes, tem sido não só indiferente à contínua decadência da sua língua nas instituições europeias, como (pior do que isso) tem dado constante apoio a esse declínio rumo ao ocaso. Por isso, aquilo que o ministro Tete António destapou são principalmente vergonha e embaraço para Portugal, respectivas autoridades e seus representantes na União Europeia. Não fazem nada para afirmar e defender o estatuto internacional da Língua Portuguesa e seus direitos e potencial na União Europeia. Nada!
O regime linguístico da União Europeia garante, desde 1958, directamente pelos Tratados, igualdade de tratamento a todas e cada uma das línguas oficiais. No princípio, eram quatro línguas de seis Estados; hoje, são 24 línguas de 27 Estados. Mas a burocracia vai engendrando regimes “práticos” mais “simplificados”, que resultam........
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