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O tropeção do 10 de Junho na escravatura

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02.07.2025

O discurso da escritora Lídia Jorge nas cerimónias oficiais do 10 de Junho, em Lagos, suscitou muitas críticas de vários sectores sociais e políticos. Também elogios. É um discurso que dividiu. E a polémica ressoou na comunicação social e sobretudo pelas redes sociais, ampliando o eco das palavras da conselheira de Estado e presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do 10 de Junho.

Não podiam deixar de ser reacções esperadas à abordagem que fez de um tema muito manipulado: a escravatura. Percebe-se bem ao reler o discurso. Ou seja, o discurso de Lídia Jorge não representou um consenso nacional, nem era isso que pretendia; foi escrito e lido para agitar as águas, e era isso que pretendia.

Das críticas que se manifestaram, escolho dois artigos de João Pedro Marques com que inteiramente me identifico: “Considerações sobre um discurso de Lídia Jorge” (Observador, 11-junho-2025) e “Os três erros de Lídia Jorge” (Observador, 18-junho-2025). Remeto o leitor, em geral, para estes textos. São reflexões muito acertadas e rigorosas, equilibradas e certeiras, vindas de um autor que é uma autoridade na matéria – um dos nossos especialistas, muito conhecedor –, que, pelo menos desde 2017, mantém atenta intervenção pública, respondendo de modo sempre oportuno, muitas vezes sozinho, às mentiras, falsidades e manipulações que o wokismo vai semeando e propalando. Mais uma vez o fez aqui. E tem publicado vários livros (alguns, coligindo as suas crónicas; outro, textos originais), que constituem preciosa ferramenta e património precioso para fazermos a travessia destes tempos difíceis. Graças a João Pedro Marques, só nos deixamos enganar se quisermos. A verdade nunca prescreve.

Lídia Jorge começa com um discurso bem escrito e bem construído, à altura do seu talento. É assim até, já perto do final, aterrar no ponto desastrado que seria o seu propósito: conotar os Descobrimentos com a escravatura, manchá-los, amolgar o prestígio de grandes figuras portuguesas (como o Infante), alardear superioridade moral sobre os portugueses de antanho, ignorar por inteiro o tempo histórico, para servir levianamente a exibição da vergonha e da condenação fora de tempo. Em resumo, a derrapagem woke, embora suavizada aqui ou ali.

Isto não se faz, sobretudo num 10 de Junho.

Se entidades oficiais querem reflectir sobre o tema da escravatura (ou similares), podem fazê-lo em qualquer ocasião que não o 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões........

© Observador