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Sociais-Democracias: progresso vs. imobilismo

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14.10.2025

É comum na retórica política e no comentário político atual, e mais concretamente em Portugal, opor-se, como se fossem ideologias distintas ou adversárias, o socialismo democrático, que comummente se atribui em Portugal ao Partido Socialista (PS), e a social-democracia, a que corresponderá alegadamente o Partido Social-Democrata (PSD).

Entende-se a oposição realizada na argumentação política, mas esta distinção não faz sentido, em primeiro lugar, em termos conceituais e ideológicos – social-democracia e socialismo democrático são duas expressões que, originalmente, se reconduzem à mesma corrente ideológica, a corrente revisionista do socialismo protagonizada no fim de século XIX.

O que vou aqui expor é uma pequena descrição da evolução histórica da social-democracia enquanto ideologia e enquanto projeto político, o que pode ajudar a responder a algumas interjeições que, por vezes, e de forma ignorante ou pouco informada, ouvimos, como: “Olha que o Sá Carneiro era de esquerda!” ou “Isso não é ser social-democrata!”.

A social-democracia nasce no final do século XIX, de um impulso revisionista do comunismo ortodoxo marxista, devido ao desencantamento generalizado com o falhanço das previsões de Marx e da sua incapacidade de propor um projeto adequado e construtivo de ação política e de dar resposta a um período de forte dinâmica de mercado e um assinalável pulsar capitalista, embora gerador de desigualdades e desintegração social.

Deste impulso revisionista do socialismo surgiram duas correntes: uma linha mais dura que pretendia a imposição do socialismo por uma ação violenta de índole político-militar, assim derrubando a ordem estabelecida; e uma linha protagonizada por Eduard Bernstein, teórico alemão considerado o fundador da social-democracia, que acreditava que o socialismo seria alcançado através do combate político, mas por meios democráticos, advogando uma abordagem evolutiva, gradual, com a primazia das instituições políticas e colaboração interclassista (o contrário do que Marx defendia)1.

Avançando um pouco para o período pós-guerra, a social-democracia ganhou fulgor e consolidou-se enquanto projeto político credível e viável, e quase predominante na Europa ocidental, com especial influência de William Beveridge, o grande ideólogo social-democrata britânico, e John Maynard Keynes, proeminente economista britânico. Assente nos modelos apresentados por estes dois teóricos, o Reino Unido, grande parte da Europa Ocidental, e, em certa medida, os Estados Unidos da América, implementaram um modelo de Estado Social (welfare state) e de intervenção do Estado na economia muito em linha com a proposta política da social-democracia.

Os projetos sociais-democratas eram diferentes de país para país, mas sempre assentes numa relevância do Estado Social, na intervenção do Estado na economia e da redução das desigualdades entre classes sociais. Tal foi sendo alcançado, com resultados assinaláveis ao nível da redução das desigualdades, da prevalência e da salvaguarda das instituições........

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