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A honestidade como meio de enriquecimento

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16.03.2025

O homem é um ser fraco1, presa fácil de ambição2, concupiscência3, ganância4, orgulho5, e outros vícios6. No entanto, a posse, ou a proximidade ao poder7 político parece potenciar os seus defeitos, especialmente o da ganância. Quando terá sido o governo sem qualquer caso ou casinho no nosso país? Sempre que ouvimos falar da empresa de spin8-político do sr. primeiro ministro, muito apropriadamente denominada de Spin-um-viva, ou do Tutti Frutti, Influencer, Marquês & semelhantes pensamos: será que os nossos políticos não conhecem outro modo de ganhar dinheiro e subir na vida senão puxando, mexendo & abrindo em proveito próprio, e dos seus compadres, os cordéis da bolsa de autarquias, guverno y União Europeia?

Assim, não havendo muitos exemplos, no passado recente, de políticos íntegros e empresários de sucesso sem múltiplas conexões partidárias, e atendendo que é necessário apresentar à nossa juventude paradigmas de sucesso material acompanhado por, ou até derivado de fervor religioso e escrupulosa atuação ética, apresenta-se a seguir um caso de henriquecimento originado na honestidade, relatado num antigo manuscrito guardado num templo nas vizinhanças de Kyoto, a antiga capital imperial japonesa. Relata o documento:

«Nos tempos dos nossos honoráveis antepassados, habitava numa humilde aldeia montanhosa da Província de Settsu um pobre lenhador que seguia o caminho do Senhor Buda — Aquele do Sagrado Lótus, do Antes, do Agora e do Outra-Vez-a-Vir — não tomando qualquer vida animal para o prazer de seu paladar ou conforto do seu ventre e orando, como deve fazer um homem devoto, pelo eterno bem-estar de sua própria alma.

Certo dia, caminhando por num desfiladeiro, encontrou uma raposa presa pela pata numa armadilha de caçador, vítima9 do engenho humano que, com muitos gemidos e lágrimas escorrendo pelo focinho, parecia suplicar-lhe socorro, de modo que, tomado de compaixão, quisera ele soltá-la. Porém, desejando não roubar por qualquer modo a nenhum homem honesto, percorreu uma longa milha montanha abaixo até sua barraca e, tomando de um esconderijo que tinha sob a palha onde dormia uma moeda de prata, fruto de vários meses de árduo labor, retornou ao desfiladeiro e libertou a raposa, embrulhando a peça de prata num pedaço de pano de algodão e atando-o à armadilha antes de seguir seu caminho. [nota: este exemplo, o não roubar ou destruir o honesto trabalho das outras pessoas, nem que seja para ajudar outrem caído em aflitivos apuros, parece que deveria ser adotado não só pelo nosso estado social, nossos políticos e orçamento de estado, mas também por todos os ativistas ambientalistas e dos chamados direitos animais] A raposa, ao ser libertada, não fugiu, mas, como se compreendesse o coração do lenhador, roçou-se-lhe aos pés, lambeu-lhe as mãos e acompanho-o mancando tobo-tobo, até a boca do desfiladeiro, onde latiu três vezes e se sumiu no matagal.

Na terceira noite seguinte, ao repousar o homem à porta de sua cabana, exaurido pelo labor cheio de suor do dia, subitamente lhe apareceu uma donzela, vestida em uma túnica de seda parda, que o chamou, e ele, ao ver-lhe a rara formosura e crendo tratar-se de alguma grande dama extraviada de seu séquito, prostrou-se e inquiriu-lhe em que lhe podia ser útil. Disse ela: “Não te prostres, pois sou a raposa cuja vida tua humanidade resgatou10 aqui há dias, libertando-a da alçaprema em que ficara presa, e cuja existência adquiriste com tua moeda de prata. Tomei esta forma para retribuir-te o favor na medida do que me é possível.” Ao que ele exclamou: “Ó augusta senhora do mundo dos espíritos e da magia! Por minha ínfima insignificância não mereço tamanha condescendência! Oito vezes sou recompensado apenas por esta visita! Sou um pobre lenhador e vós sois o repositório de toda beleza. Rogo-te, não zombais da minha baixa condição.”

Então disse ela: “És um homem pobre apesar de todo o teu árduo labor diário [nota: aqui, a raposa parece estar a fazer uma referência à distinção clássica entre os que são pobres apesar de trabalhar muito, os que são pobres porque não trabalham e não trabalham porque não podem, e aqueles que são pobres porque não querem trabalhar, três categorias com valorações éticas distintas, uma diferenciação que se encontra ultrapassada desde a instituição do “estado social”]. Permite-me ao menos indicar-te o caminho da fortuna [“sem entrar na vida política” acrescenta uma variante mais recente do texto].” Perguntou ele: “E como poderá isso ser feito?” Respondeu ela: “Amanhã de manhã, veste tua melhor túnica e tuas mais resistentes sandálias e vem à boca do desfiladeiro onde me salvaste. Ali me verás em minha verdadeira forma. Segue-me aonde eu te conduzir, e a boa fortuna será tua. Prometo-te, palavra11 de raposa!” Ante isto, prostrou-se ele em gratidão perante a sublime donzela e, ao erguer a cabeça, já ela tinha........

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