Munique, Versailles e o Talleyrand que merecemos
1 Desde que Donald Trump decidiu negociar com a Rússia que uma legião de comentadores passou a fazer referências, mais ou menos directas, aos Acordos de Munique, uma comparação que, para ser generoso, me parece uma tolice típica dos tempos histriónicos que vivemos.
Antes de mais, ainda que isto possa parecer um preciosismo, Trump não é Chamberlain. O antigo Primeiro-Ministro inglês era um homem honrado, de convicções, que serviu o seu país o melhor que soube. Trump é um homem amoral, desonesto e que serve apenas a si mesmo. Chamberlain tomou uma decisão errada (que assombra a sua memória), mas pelas razões certas. Trump pode até tomar a decisão certa, mas quase sempre pelas razões erradas.
Passando o pequeno pormenor da diferença abissal entre Chamberlain e Trump, a verdade é que o momento “Munique” da actual guerra na Ucrânia aconteceu em 2014, quando Putin testou o Ocidente, anexando a Crimeia, e escapou impune perante a inação de Barack Obama. A passividade do Ocidente em geral, e dos EUA em particular, em 2014, foi o que deu a Putin a confiança de que poderia invadir a Ucrânia e escapar apenas com mais um ralhete de um presidente democrata.
E teria sido assim se não fosse a coragem e o génio de Zelensky, que através da sua comunicação conseguiu gerar uma tal indignação no Ocidente, que obrigou os EUA e a Europa a dar-lhe apoio suficiente para enfrentar o vizinho gigante durante três anos.
2 Quando os EUA entraram na Primeira Guerra Mundial, impuseram algumas condições para o fim da mesma: a rendição incondicional da Alemanha e da Áustria, o fim das duas dinastias e o desmembramento do império Habsburgo. O resultado destas condições foi o prolongar da guerra (somando ainda mais milhares de mortos), o vácuo de autoridade na Alemanha e na Áustria e o desaparecimento da única........
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