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O Botas Botilde

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Era inevitável, não era? Mais cedo ou mais tarde, tinha de acontecer. Um dia, algum deputado português apareceria a dizer que Salazar faz muita falta a Portugal. Sabíamos disso. Só não achámos que fosse já.

Vejamos, hoje em dia, o Marquês de Pombal é uma figura histórica respeitada e apreciada pelos portugueses. Tem uma estátua na principal praça da capital, cujo centro ainda hoje é conhecido pelo seu nome. Quase 250 anos depois da sua morte, o Marquês é considerado um grande estadista, responsável pela reconstrução de Lisboa depois do terramoto de 1755 e por uma série de políticas que transformaram o país, modernizando-o. Mas isso é agora. No período logo após a sua morte era visto como um déspota que, durante quase três décadas, perseguiu os seus adversários, reprimiu qualquer crítica, um ímpio que prejudicou a Igreja e um patife que se locupletou à custa do Reino, tendo ainda beneficiado financeiramente amigos e família.

Porém, a passagem do tempo e o natural desaparecimento de quem sofreu pessoalmente ou conheceu quem tenha sofrido, trataram de suavizar as memórias mais tenebrosas, transformando-o numa figura neutra. Por exemplo, conheço Távoras e, se têm alguma embirração com o Marquês, é com o trânsito que há na rotunda.

Fatalmente, sucederá o mesmo com Salazar. Por mais repugnância que o ditador inspire agora na maioria dos portugueses, daqui a dois séculos os nossos descendentes irão vê-lo como agora vemos D. João V ou o Duque de........

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