O trilema nuclear de Fordow
Para lá da exaustão ou destruição dos cerca de 2000 mísseis balísticos capazes de atingir Israel, que se estima que o Irão tenha e que não durarão muitos dias, a central nuclear de Fordow é o objectivo mais duro.
Esta instalação é absolutamente crítica para o programa nuclear iraniano, pela fortificação e pela função estratégica. Trata-se de uma espécie de cofre, enterrado a mais de 80 metros de profundidade numa montanha de granito e blindado com múltiplas camadas de betão armado e aço. Tem também redundância energética e capacidade de funcionamento autónomo em modo selado. Em suma é uma fortaleza nuclear construída com um único objectivo: resistir a tudo!
A sua função é o enriquecimento de urânio aos níveis militares. A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) confirmou que é isso que está a acontecer e ninguém enriquece urânio a estes níveis sem ser para desenvolver armas nucleares.
Ou seja, Fordow é a piece de resistence do programa nuclear iraniano, o ponto de não retorno: se ficar intacto, o Irão pode transformar urânio em ogivas nucleares num espaço de semanas, sob protecção à prova de quase tudo, com poucas hipóteses de ser interrompido.
Destruir esta fortaleza seria não só um golpe humilhante no orgulho estratégico do regime iraniano como também o colapso da narrativa interna de invulnerabilidade, já seriamente debilitada pelo espectáculo de dezenas de aviões israelitas a voar impunes sobre Teerão. Mas sobretudo a perda da capacidade de chantagem nuclear com que o Irão tem negociado com os EUA, a Europa e a ONU.
Deixar Fordow intacto é como deixar um cofre aberto e rezar para que o ladrão não esteja com pressa. Se Fordow sobreviver, o mundo inteiro poderá não conviver nada bem com o que dali sair, dado o historial revolucionário, a ideologia, a praxis e as consistentes declarações do........
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