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A Burka

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01.11.2025

Mahsa Amini é eterna. A jovem curda iraniana de 22 anos, detida pela chamada “polícia da moral” por alegadamente não usar devidamente o véu e que morreu sob custódia poucas horas depois, tornou-se um ícone mundial da resistência feminina. A sua morte brutal expôs, sem filtros, o que significa viver sob um sistema em que o corpo da mulher não lhe pertence — pertence ao Estado religioso, aos gerontes que mandam, aos homens que vigiam, à polícia de costumes. A coragem dela, e de todos os iranianos e iranianas que se recusaram a deixar que a sua história fosse enterrada, acendeu um movimento que já não volta para trás: a recuperação da dignidade das mulheres num mundo onde ainda hoje metade da humanidade é tratada como propriedade. Vemos, todos os dias, raparigas e mulheres iranianas e homens que as apoiam a sair à rua, enfrentar bastões, balas, prisões e a dizer “basta”. Porque há que viver, e a Liberdade é fundamental onde quer que se esteja.

Aconselho vivamente a procurar e ler sobre Mahsa Amini. Ler a sua história é prestar-lhe homenagem, e é reconhecer que isto não é “cultura”, não é “tradição”, não é “religião”: é violência de Estado contra o corpo feminino. Quem ler não volta a dizer, de ânimo leve, que “é só um pedaço de pano”.

Entretanto, na Europa, fingimos muitas vezes que isto está longe. Mas não está. O Líbano também estava mesmo aqui ao lado. Ao mesmo tempo que mulheres e homens no Irão arriscam a vida contra a tirania religiosa, em várias cidades europeias começaram a surgir redes organizadas de islamismo político radical — não falo aqui dos muçulmanos em geral, nem das comunidades pacíficas e integradas, falo de estruturas fundamentalistas muito concretas, como as que se inspiram na Irmandade Muçulmana, que é banida ou classificada como perigosa em vários países precisamente por tentar substituir a lei civil por lei religiosa, e se encontra proibida em muitos países muçulmanos. Essas redes florescem em bairros onde o Estado fecha os olhos. Tentam impor códigos de conduta sobre as mulheres, normalizam violência de “honra”, e intimidam quem não obedece. Pior: em vários países europeus, já vimos casos em que abusos chocantes — inclusive redes de exploração sexual de raparigas vulneráveis — foram tolerados anos demais porque as autoridades temeram ser acusadas de racismo. Ou seja:........

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