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A ecologia do diálogo: como falar sem gritar?

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21.05.2025

Há dias em que sinto franca dificuldade para manter uma conversa sem dela sair exausta. Ou irritada. Ou puramente resignada. Vivemos rodeados de palavras, mensagens e opiniões, mas raramente de escuta. Há muito ruído e pouca comunicação. Muitas mais projeções de ideias preconcebidas do que entendimento.

A sociedade contemporânea encontra-se mergulhada num frenesim discursivo em que todos parecem obrigados a dizer algo, a reagir prontamente, a tomar posição com veemência. Contudo, quanto mais se fala, menos parece que nos compreendemos. O espaço público transformou-se num campo de combate verbal, onde a urgência de responder se sobrepõe ao desejo de compreender. Neste contexto, talvez nos seja útil emprestar ao discurso uma metáfora ecológica: e se começássemos a olhar para a linguagem como olhamos para o ambiente?

Tal como o planeta, o diálogo também está sujeito a poluição. Há palavras que intoxicam, frases que corroem, palavrões que gritam agressão. Apesar disso, relembro a existência de palavras que reparam, escutas que acolhem, gestos verbais cuja leveza constrói pontes. A ecologia do debate implica, portanto, uma ética de cuidado com o que se diz, mas sobretudo com a forma como se ouve.

As redes sociais, que nos prometiam proximidade, criaram bolhas cada vez mais fechadas. Discutimos sobretudo com quem concorda connosco ou contra quem serve de inimigo útil. A dúvida é encarada como fraqueza, a escuta como passividade, e o silêncio como ignorância. Nesta lógica, comunicar não é........

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