Afinal a mãe tinha razão…a culpa é mesmo do ecrã!
Bom, comecemos, talvez, por admitir que as dores de barriga não apareceram por estarmos ao computador durante várias horas, e que não ficámos constipados por estar ao telemóvel a falar com um amigo…certo? De igual modo, seria desonesto não admitir que já sentimos a visão turva sem motivo aparente, dores de cabeça súbitas, sem qualquer explicação imediata, ou dores no pescoço ou nas costas sem termos feito qualquer esforço físico. Trata-se apenas de sintomatologia espontânea, não-relacionada? Ou…será que a mãe era capaz de ter razão?
Recuemos, primeiro, até uma época mais “desafogada”, em que as redes sociais ainda eram nascentes, a tecnologia primitiva, e o consequente uso de ecrãs muito mais limitado. Pensemos numa altura antes da exposição crónica a ecrãs. Numa época em que nem tudo era um anúncio, e nem tudo era desenhado para nos manter “agarrados”. Ocorria o lançamento do primeiro iPhone, o Facebook e o YouTube traçavam o início da sua ascensão astronómica, e o Myspace, o Hi5 e o MSN Messenger dominavam o panorama social e comunicativo entre as camadas mais jovens.
O ritual era, se não igual, bastante idêntico – chegarmos a casa, tratarmos dos afazeres diários, e sentarmo-nos em frente ao computador. Iniciada a sessão, estávamos oficialmente conectados ao mundo digital. Brevemente chegaria a hora de jantar (ou, para os mais demorados, a hora de ir dormir), e terminávamos sessão, lançando um adeus, por ora, ao que ficava do outro lado do ecrã. Este ato de conexão à internet – o logging on – , permitia, de modo bastante diferenciador, transitar entre o real e o digital. Hoje em dia, porém, esta barreira que separava o digital do físico esbateu-se até um nível que torna as duas realidades praticamente indistinguíveis – irónico que, numa era de conexão sem precedentes, estejamos progressivamente mais desconectados. Não explorarei os impactos sociais desta mudança de paradigma nesta peça – para isso, deixo em referência o excelente artigo © Observador
