O imigrante de Schrödinger
Há cerca de 5 ou 6 anos, a minha empresa estava em permanente estado de emergência. A procura que tínhamos do estrangeiro era mais que muita e precisávamos de contratar pessoas que não encontrávamos. Os portugueses estavam a começar a sair para as economias mais fortes e não havia alternativa. A verdade é que chegámos a ter nessa altura pessoas de 26 nacionalidades. De lituanos a camaroneses, de alemães a sul-africanos, de são-tomenses a turcos. Se não tivéssemos conseguido captar essas pessoas para a nossa economia, talvez os demais empregos portugueses, de então e no futuro, não tivessem sobrevivido. Essas 26 nacionalidades são um dos maiores orgulhos da minha vida profissional. Mas cada um era uma luta administrativa para cumprir com os requisitos da lei para que estas pessoas se tornassem residentes em Portugal.
Não sobravam portugueses na altura? Sobravam bastantes, mas não com as competências necessárias para aquilo que estava a ser vendido. Não é só uma mera questão de número, envolve também utilidade e conhecimentos. A verdade, meus caros, é que não se enchem cursos de direito e de ciências sociais gratuitamente porque no fim a economia é feita de gente que produz, não de gente que vive do contexto.
É verdade que nessa altura a oposição à imigração cingia-se a 2 ou 3 broncos e não a 2 ou 3 milhões deles como acontece hoje. Como passei por essa situação e da evolução subsequente com a abertura prática das fronteiras, achei que tinha alguma coisa a dizer aos meus conterrâneos, já que os meus conterrâneos acabam expostos a todo o tipo de político e comentador dos quais não se conhece palha que tenham mexido algum dia, mas que têm horas de conversa sobre a solução para a imigração — o que até acaba por ser transversal ao chamado espectro político.
Gostava de começar com aquilo a que vi alguém chamar o imigrante de Schrödinger, em que um........
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