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A parede e os seus pedreiros

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10.07.2025

Estreou recentemente em Lisboa um documentário que tem por objecto o cemitério ou depósito de cadáveres de escravos negros em Lagos. Trata-se de Contos do Esquecimento e Dulce Fernandes, a sua realizadora, falando ao Expresso, censurou-nos a todos da seguinte forma: “Continuamos a não conseguir falar sobre o papel de Portugal no tráfico transatlântico, cuja escala, duração e consequências são tão violentas e profundas quanto são omitidas da nossa memória colectiva”. É a conhecida e falsa tese do silêncio ou do tabu que segundo muita gente de esquerda existiriam na nossa sociedade e contra os quais, na sua fantasia, os intrépidos e esclarecidos woke teriam sido chamados a combater. Ora, é verdadeiramente incrível que ao fim de oito anos e meio de debate público sobre esse tema, período no qual se publicaram dezenas de livros e entrevistas, e se escreveram centenas de artigos em jornais e revistas de ampla circulação, ainda haja gente que tenha a lata de afirmar que os portugueses não conseguem falar sobre o seu papel no tráfico negreiro e que o país continua a varrer esse assunto para debaixo dos tapetes da sua memória colectiva. Estas afirmações da realizadora são ainda mais inacreditáveis quando nos damos conta de que, em vez de ter sido escondido ou arquivado no segredo dos deuses, o início do tráfico de escravos negros para Portugal foi relatado em grande detalhe, logo na época em que aconteceu, por Gomes Eanes de Zurara na Crónica de Guiné.

Mas não são apenas as declarações de Dulce Fernandes que surpreendem no artigo do Expresso. Efectivamente, uma outra senhora, Vicky M. Oelze, da Universidade da Califórnia, que está a estudar as ossadas dos africanos enterrados naquele local de Lagos, considerou que “o comércio português de escravos foi maciço e muito maior em número do que o tráfico humano em que qualquer outra nação se envolveu”. Ou seja, estamos perante uma nova manifestação da tese da gigantesca dimensão da maldade portuguesa, tese que visa acentuar a culpabilidade do nosso país e na qual........

© Observador