Tiro pela Culatra? Um Olhar Psicológico sobre os Anjos
Antes de mais, boa tarde, ou boa noite, ou até bom dia! Não sei muito bem como se inicia um testemunho, mas gostaria de deixar aqui o meu sobre este tão digno processo para a nossa atividade jurídica. Creio que não é preciso entrar em grandes detalhes sobre o caso, pois já muita tinta correu sobre o processo antes do primeiro e do segundo ato. Já vamos no terceiro round (no dia em que escrevo o artigo) e, portanto, para lá do prólogo. Por isso, não quero entrar aqui em manifestos kafkianos sobre este processo, mas não resisto a ver neste circo jurídico um espelho do nosso embate com o humor e a liberdade.
Sendo eu um psicólogo clínico e um pragmatista, interessa-me a função de todo este processo e a sua fama. Como é que, de repente, um vídeo de um minuto, sobre uma atuação de pouco menos, conseguiu levantar uma celeuma tão grande? Na minha opinião, isso significa que este processo desencadeou um efeito de “tiro pela culatra”.
Pode parecer pioneira e excêntrica esta perspetiva, mas vou tentar ser sintético e não maçar o caro leitor com aspetos desnecessários da engenharia da minha analogia. Contudo, algum jus lhe devo fazer, pois a intenção da presente expressão perdeu os seus efeitos mecânicos, de tão antigo mecanismo que representa. O ‘tiro pela culatra’ era uma consequência de defeitos mecânicos ou de mau recarregamento nos antigos mosquetes ou pistolas de percussão.
Essa consequência podia dever-se a vários erros de manutenção e/ou gestão da arma, ou a defeitos mecânicos da mesma. Alguns exemplos tinham a ver com munição defeituosa ou calibre impreciso; obstrução do cano; falha no sistema de fecho; material de baixa qualidade; falta de manutenção, etc.
Neste momento, o leitor, com toda a legitimidade, pode estar a perguntar-se: “Mas o que é que isto tem a ver com a situação dos Anjos e da Joana Marques?”. E, com estima, relembro que os Anjos foram selecionados para dar o ‘tiro de partida’ no Moto GP de Portugal, em 2022. Tiro esse que parecia de pistola de festim (dado o efeito inócuo que poderia ter provocado), mas que afinal soou a um ‘tiro pela culatra’: sem mazelas imediatas, mas aparentemente com sequelas, quando o evento foi mais tarde relembrado por imensas pessoas (incluindo Joana Marques).
Olhando atentamente os vídeos de reprodução do evento, percebemos claramente quais foram........
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