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Quando a liderança perde a graça (de estado)

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20.06.2025

A tradição católica ensina que Deus concede “graças de estado” àqueles que assumem funções de liderança, proporcionando-lhes os dons espirituais necessários para cumprir as suas responsabilidades. Não por mérito próprio, mas porque a missão exige uma assistência sobrenatural para ser exercida com justiça, discernimento e firmeza. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino aprofundaram essa doutrina, destacando que a graça divina opera na vida das pessoas, especialmente quando desempenham funções de autoridade. No entanto, olhando para o estado da liderança política dir-se-ia que essa graça — e o sentido de Estado que a deveria acompanhar — tiraram férias. Longas.

Em Portugal, a descredibilização dos representantes políticos tornou-se comum — não por preconceito popular, mas por mérito dos próprios. O actual Presidente da República, tornado Presidente-Rei por ânsia de protagonismo e carência de contenção, transformou a magistratura suprema num palco pessoal. Multiplicam-se os episódios insólitos: declarações levianas a comer gelados em Belém enquanto o país atravessava crises políticas sérias; viagens internacionais de utilidade nula, sem objectivos claros, sobrecarregados de custos generosos para o erário público. A presidência deixou de ser uma referência de equilíbrio e passou a ser um reality show ambulante. Como se não bastasse, o putativo candidato, declarou, com semblante sério, que decidiu candidatar-se porque Donald Trump estava na Casa Branca. Para o bem da sua candidatura, talvez o silêncio seja o seu melhor conselheiro.

Na Europa, a França de Emmanuel Macron tornou-se um exemplo eloquente de como a ausência de sentido de Estado pode conduzir ao colapso institucional. O presidente francês, cuja figura é cada vez mais associada a uma elite distante e autorreferencial, é acusado de contradizer os valores republicanos que afirma defender. Durante a sua campanha, vieram a........

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