Depois de Munique
Se não estou em erro foi Rousseau quem escreveu que as paixões, as emoções, as convicções dividiam os homens; mas que a Razão os unia. Porque as paixões, as emoções e as convicções eram subjectivas e a Razão objectiva.
Será assim? No presente debate, melhor, no presente pânico criado pelo tsunami norte-americano, quando a (também rousseauniana) vontade da maioria parece estar contra a Esquerda, mais radical ou mais centrista, há uma vaga crescente para partidarizar a Razão, quando não a Ciência e a Justiça (veja-se como o Supremo Tribunal da Roménia anulou uma eleição). De um lado, a equivocada vontade popular; do outro, a Razão, como força dissuasora da vaga “emocional e passional” de bárbaros mancomunados com os ditadores de todo o mundo para assaltarem a democracia liberal.
Curiosamente, a contraofensiva à esquerda e ao centro contra a “vontade popular” da nova barbárie repete grande parte dos argumentos que as forças reacionárias e conservadoras foram formulando, ao longo de mais de dois séculos, para contrariar, precisamente, essa mesma vontade popular – ou seja, o direito da maioria de escolher o governo e de esse governo, escolhido pela maioria, governar de acordo com a Constituição e as leis.
Assim, quando o povo-soberano escolhe mal, erradamente, quando escolhe a “extrema-direita” ou “reaccionários” apostados em “acabar com a democracia”, toda a sagrada construção à volta do governo da maioria desaba
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como uma falsa e enganadora Babel, destinada a escravizar o próprio soberano: o ignaro povo que, temerariamente, se enganou na escolha.
E veio “a resistência” – como se, depois da eleição de D.J. Trump e J.D. Vance, a Euro-América estivesse ocupada por um........
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