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O plano de (in)acção para a floresta

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02.04.2025

O governo apresentou, em 21 de Março, o seu Plano de Intervenção para a Floresta. O plano tem 96 páginas, manifestamente excessivo para uma estratégia, ainda mais excessivo para um plano que se pretende de acção.

Infelizmente, esse é o menor dos seus problemas, que começam logo na Visão que apresenta: “Promover uma Floresta nacional mais sustentável, menos vulnerável a ameaças e riscos e produtora de mais e melhores bens e serviços para Portugal.”

É uma típica visão Miss Mundo, sem qualquer utilidade prática porque corresponde a uma trivialidade que qualquer pessoa e agente do sector subscreve, mesmo defendendo modelos completamente distintos de gestão florestal, para atingir objectivos igualmente distintos.

Uma visão alternativa, claramente orientada para a acção, poderia ser mais curta: “Reduzir a área florestal sem gestão ou com gestão insuficiente”.

Como é habitual nas discussões sobre o sector florestal, o plano mistura indicadores económicos e sociais provenientes da indústria transformadora com os indicadores que serviriam para caracterizar a produção florestal, levando a uma visão distorcida dos problemas associados à gestão florestal, em especial, disfarçando o gravíssimo problema de competitividade de grande parte da produção florestal.

O plano contém, frequentemente, uma errada equação dos problemas, invertendo relações de causa/ efeito, como por exemplo, “a floresta tem sido fortemente afetada pelo crescente despovoamento rural” quando é o despovoamento rural que é afectado pela ausência de competitividade da floresta (e de outras actividades do mundo rural), não a inversa. Mais:

“Estima-se que cerca de 400 mil proprietários detenham cerca de 11,7 milhões de prédios rústicos. A dispersão da propriedade dificulta a gestão e reduz o investimento. Além disso, cerca de 30% dos prédios rústicos estão em heranças indivisas, tornando a gestão ineficaz e promovendo o abandono e a acumulação de combustível, fatores que aumentam o risco de incêndio.”

Este é outro excelente exemplo de má equação dos problemas, ao inverter, de novo, as relações de causa/ efeito: é a incapacidade de produção de riqueza a partir da produção florestal que leva à desvalorização da propriedade, e consequente desinteresse dos seus proprietários na defesa dos seus direitos, e não a estrutura da propriedade que impacta negativamente a competitividade do sector (o que acontece, sim, mas marginalmente).

“Os incêndios rurais constituem um dos principais fatores de degradação do território rural, em particular da floresta portuguesa, com impactes devastadores a nível ambiental, económico e social. O abandono da gestão florestal e a consequente acumulação de material combustível tem conduzido a........

© Observador