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À conta do resgate animal estamos a legalizar uma milícia?

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O mal estar humano. A coisa conta-se rapidamente: em meados de Outubro, Tomás Pires, presidente do IRA — Núcleo de Intervenção e Resgate Animal anunciou que “Portugal reconhece o IRA como entidade de proteção e socorro com veículos prioritários. (…) O Instituto de Mobilidade e Transportes (IMT) concedeu ao IRA – Intervenção e Resgate Animal – a autorização n.º 609/2025 DRMTLVT, permitindo às nossas viaturas a utilização de avisadores sonoros (sirenes) e avisadores luminosos azuis, passando a estar enquadradas no regime de veículos prioritários para efeitos de trânsito e circulação.”

Por outras palavras, o Governo equiparou as viaturas do IRA às usadas pelas polícias, INEM ou bombeiros, permitindo-lhes circular com estatuto de veículo prioritário, usar luzes de marcha urgente e também sirenes. Tudo isto, claro, em nome do resgate animal. E a partir do momento em que hoje se diz “animal” entra-se numa parte do discurso hipercontrolado. Há anos que os animais, sobretudo se mamíferos, passaram a ocupar o lugar que foi das crianças. Hoje nas clínicas veterinárias não nos perguntam se vamos tratar do nosso cão ou gato mas sim se vamos tratar “do menino” ou “da menina”. Também há os que falam de patudos e pets. Pelo contrário, a palavra dono tornou-se maldita. Gente que não dá uma colher de sopa a um familiar mais velho (ou mais novo) apanha as fezes dos cães na rua. Na verdade a afectividade para com os animais tornou-se mais natural e reconfortante que para com os humanos. Cuidar dum animal é um dever. Cuidar dum familiar uma responsabilidade insuportável.

Mas tudo isto são costumes. Outra coisa é aquilo que estamos a deixar passar entre estes costumes e a proverbial distracção perante as chamadas........

© Observador