O mundo mudou, menos em Lisboa
Cada semana traz-nos uma nova surpresa, sempre pior do que a anterior para este nosso conforto europeu, em que os Estados se demitiram das suas funções de soberania e entregaram a segurança externa aos Estados Unidos. Depois de muita conversa, mais polida como com Obama, e agora a atingir níveis inimagináveis com Donald Trump, os países da União Europeia começam a despertar para as funções básicas do Estado. A valorização das empresas europeias ligadas à defesa, no mercado bolsista, é o sinal de mudança desta semana.
Sem dó nem piedade, o vice-presidente dos Estados Unidos confrontou os líderes europeus com a fragilidade dos seus países. E, sim, podemos sempre dizer que não tem legitimidade para nos falar de liberdade e democracia. O problema é que tem o poder que demos, de mão beijada, aos Estados Unidos, na defesa e na economia. E como dizia um diplomata europeu citado pelo Político, os norte-americanos costumavam fingir, educadamente, que os europeus eram importantes, agora deixaram de o fazer. E vemo-nos na suprema humilhação de uma guerra que ameaça os países europeus ser negociada sem os países europeus, exigindo em simultâneo que paguem a conta da manutenção da paz.
O mundo mudou e vai ser muito mais exigente. Mesmo para nós, que julgamos que a periferia nos protege. A maior e mais complicada ameaça atinge diretamente o Estado Social que fomos construindo, sem cuidado nem limites, como se os recursos fossem infinitos. A escolha entre “canhões ou manteiga” vai tornar-se uma realidade, mesmo que se tente disfarçar no curto prazo com as habituais engenharias europeias de tirar as despesas com a Defesa dos cálculos da disciplina orçamental. Por muita contabilidade criativa que se faça, de tira e põe, nada retira a necessidade de se pagar a despesa. E com a dívida que os países europeus têm, depressa se colocará a escolha........
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