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Se o Renato é autista, o que é o mundo? 

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Conheci um menino de cinco anos que a minha filha de dois adorou. Ele andava a correr pelo parque e os outros meninos iam atrás dele como num frenético jogo do rato e do gato. Contudo, desta vez, em causa não estava nenhum tipo de brincadeira: perseguiam o tal rapaz, atirando-lhe, violentamente, gritos e pedras às costas em zigue-zague de apuro sem socorro. Nos primeiros segundos, julguei que o fizessem por ser negro, o que me deixou logo alerta. De imediato percebi que não era exatamente por isso. Havia uma motivação diferente, ainda que tão má ou pior.

Era um grupo de quatro ou cinco crianças ligeiramente mais velhas do que o rapaz-fugitivo, apesar de fisicamente mais pequenas do que ele. Quem começou o quê foi algo que não reparei, já que, até me aperceber da “perseguição”, estava a brincar na relva com a Madalena, a minha filha, que punha água numa poça, tirada de um balde. O rapaz, de pés trocados e pulmões na boca, aproximou-se de nós, olhou para a Madalena e, sem mais, sentou-se ao lado dela num rasgo de quem encontra o que procura. Eu olhei para os rapazes perseguidores com ar de mauzão e, quando ia dizer-lhes algo, fugiram atirando ao ar “não voltes, atrasado!”.

Olhei para o miúdo perseguido, agora ao pé de nós, e reparei que ele, para além de completamente sujo de terra, tinha o braço repleto de arranhões que ainda perdiam sangue. Perguntei-lhe se queria ajuda e se os pais estavam........

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