Ensaio sobre a cegueira antissemita
Em junho de 2025, o Observador noticiou um alegado plano destinado a envenenar cidadãos israelitas num festival de música de Idanha-a-Nova. Os alvos seriam os visitantes que houvessem servido nas Forças de Defesa de Israel, ou seja, todos os israelitas presentes no evento, dado que o serviço militar é obrigatório por terras com capital em Jerusalém. Amplamente noticiado na imprensa internacional, o caso passou despercebido em Portugal, onde apenas este órgão informativo e o Correio da Manhã publicaram uma pequena notícia a respeito. Não houve campanhas mediáticas, nem declarações condenatórias por parte de políticos, nem ações espetaculares da Justiça, nem nada que alertasse a população para uma manifestação do ódio real e muito grave. O plano de envenenamento ficará ausente das estatísticas oficiais, antes integrará o capítulo das cifras negras, à imagem de muitos outros factos antijudaicos e anti-israelitas que se sucederam na última década e que foram amplamente silenciados e desconsiderados.
Em 2024, numa manifestação por melhor habitação realizada no Porto, que juntou milhares de pessoas, os judeus locais foram identificados com a crise que se vivia no setor. Ergueram-se cartazes com dizeres tais como “não arrendar aos senhorios sionistas” e “nem Haifa nem Boavista”, cabendo mencionar, para quem não sabe, que a grande sinagoga da cidade se localiza na Boavista e que os senhorios judeus nascidos em Israel representam uma ínfima percentagem dos profissionais que operam no mercado imobiliário portuense. Estes empresários foram alvos de outras mensagens e inscrições semelhantes – “nem bombas na Palestina, nem despejos no Porto” – em ruas, paredes de edifícios e nas portas das suas casas. Os nomes de todos eles, e das suas empresas, foram expostos no jornal oficial do Bloco de Esquerda, o que causou graves danos e temores para os visados e as suas famílias, com meninos e meninas com medo de ir à escola. Nenhum governante condenou o sucedido, nenhum líder parlamentar, nenhum editorialista. A Justiça, apesar de uma queixa formalizada, permaneceu adormecida perante algo que, se sucedesse na Alemanha ou nos Estados Unidos, daria lugar a uma convulsão social. Imprevisível? De modo nenhum.
Em 2023, a fachada da sinagoga central do Porto foi grafitada com inscrições de “apartheid”. Não é um edifício qualquer, antes um dos mais majestosos templos judaicos da Europa. O silêncio político a todos os cidadãos estendeu um clima de permissividade em relação a uma minoria que há muito deixou de estar integrada no vasto e cada vez mais exagerado leque dos discriminados e oprimidos e que antes é vista como discriminadora e opressora. No mesmo ano, os restaurantes e as empresas judaicas com ligações a Israel logo experimentassem atos de vandalismo, posto que vândalos feitos à pressão sentiam ter garantida uma espécie de licença para desonrar, gritar e ameaçar. O próprio massacre de 7 de outubro em Israel foi amplamente “compreendido” em Portugal, e pelos seus representantes políticos à escala mundial, apesar de fazer lembrar o genocídio de Lisboa.
Em 2022, elementos identificados de elites políticas, económicas e mediáticas – animados de uma “questão palestina” – puseram em prática um esquema para, de uma assentada, matar uma lei, destruir a maior comunidade judaica nacional e afugentar do país os judeus mais abastados, como se estes constituíssem uma ameaça para a prosperidade do país. Valeu tudo. Não foi só a inventada © Observador
