O 25 de Abril de 1974 morreu a 18 de maio de 2025
O que rotulamos por grande mudança histórica resume-se a uma só palavra, em rigor à troca de uma palavra (esquerda) por outra (direita). Basta que a popularização da palavra vencedora seja enquadrada por frases simples que lhe passem a conferir um valor sentimental que antes não existia, não era relevante ou não era assumido («Sou de direita!», «Tenho orgulho em ser de direita!»). O psicólogo social Serge Moscovici designou esse tipo de palavras-chave significativas «themata», explicando ser a partir delas que as sociedades mentalmente se (re)organizam.
Com as últimas eleições legislativas, a palavra «direita» regressa qual arma cívica e cultural temível por marcar a rotura inequívoca com o pensamento hegemónico que existe («ser de esquerda») e, em simultâneo, por assegurar a transição da insatisfação popular para uma nova era de pensamento social ou de senso comum. Vivemos dias extraordinários.
Pela primeira vez desde o 25 de Abril de 1974, os resultados das eleições do passado dia 18 de maio de 2025 fecharam um ciclo e confirmaram a abertura de outro. Atarantados, os (ainda) donos do poder (políticos, académicos, jornalistas, comentadores, artistas e associados) perderam em definitivo capacidades de resistirem à renovação em marcha do pensamento social. A palavra «direita» regressa às ruas apostada em chocar de frente e não desistir enquanto não vencer em toda a dimensão humana (moral, racional, cívica, eleitoral) o poder hegemónico instituído, há meio século, pela divinização da palavra antónima «esquerda».
Logo, historicamente o poder nasce e morre pela força de uma só palavra. A realidade é cruelmente simples. Todavia, um povo apenas se impõe a si mesmo a renovação do seu pensamento quando aquilo que ignorava ou considerava inapropriado ou inabitual («ser de direita»), como que de........
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