Donald Trump, a União Europeia e o Jogo das Tarifas
No coração do resort de golfe de Donald Trump em Turnberry, Escócia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, selou um acordo comercial com os Estados Unidos que, à primeira vista, foi celebrado como um marco de cooperação transatlântica.
Contudo, uma análise mais profunda revela uma negociação assimétrica, na qual a União Europeia parece ter cedido sob pressão, enquanto Donald Trump saiu como o grande vencedor.
Este episódio, amplamente debatido nas redes sociais e na imprensa, expõe as fragilidades da liderança europeia e reacende questões sobre a soberania económica do bloco.
Para um jornal como o Observador, atento às dinâmicas globais e ao papel de Portugal na Europa, este é um momento crucial para questionar: será a União Europeia capaz de aprender com esta derrota e começar a criar, em vez de apenas reagir?
O cerne do acordo gira em torno das tarifas impostas às exportações europeias para os EUA. Inicialmente, Trump ameaçava taxas de 30% a partir de 1 de agosto, mas a negociação culminou numa redução para 15% (um bom vendedor sabe o que se passou aqui).
Em contrapartida, a UE comprometeu-se a comprar 750 mil milhões de dólares em energia americana e investir 600 mil milhões de dólares diretamente nos Estados Unidos da América.
Para contextualizar, as exportações da União Europeia para os EUA somaram cerca de 436 mil milhões de dólares em 2020. Uma tarifa de 15% significaria um impacto de cerca de 65 mil milhões anuais; já uma de 30% dobraria este prejuízo. Ainda assim, os 1,3 biliões de dólares prometidos pela UE são desproporcionais ao alívio obtido.
Além disso, a estrutura do acordo não especifica se esses compromissos são plurianuais ou concentrados num curto período, o que dificulta avaliar os reais impactos orçamentais e estratégicos a longo prazo. A ausência de salvaguardas claras e contrapartidas tangíveis acentua a ideia de uma negociação apressada, motivada mais pela urgência do que por visão estratégica.
A estratégia de Trump segue uma lógica conhecida: criar uma ameaça extrema para, depois, apresentar uma solução “intermediária”........
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