A lenda do cavaleiro decapitado pela promiscuidade
Na planície enevoada da modernidade, surge a silhueta espectral de um cavaleiro errante. Não tem cabeça, mas cavalga impetuosamente cego, surdo à razão e guiado por instintos que brotam do ventre e não do espírito. Monta um cavalo negro e relinchante, e o seu galope soa a batidas de um coração ansioso, viciado na busca por algo que já não se sabe nomear.
Este é o Cavaleiro sem cabeça, símbolo último da alma contemporânea e que cavalga por aplicativos, bares, festas e esquinas digitais, onde os corpos se oferecem como mercadorias e identidades que se desfazem ao toque de uma tela.
A cabeça foi-lhe cortada pelo culto moderno do prazer imediato. Lá onde antes residia o logos, a consciência, a prudência e o desejo de transcendência amorosa, há agora apenas o vazio. Os olhos que um dia buscaram o rosto do outro, hoje foram substituídos por algoritmos que deslizam para a esquerda ou........
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