Qual é a cultura política mais belicista dentro dos EUA?
À época do massacre do Hamas em Israel, que aconteceu em outubro de 2023, o Presidente Joe Biden (Partido dos Democratas) manifestou as suas posições sobre o Hamas. Nelas, afirmou compromissos de carácter belicista a favor de Israel. Das suas declarações, feitas em território israelita, destacaram-se aquelas em que compara o Hamas a Putin e as outras em que decide firmar um compromisso militar dos EUA para com Israel:
‘Hamas e Putin representam ameaças diferentes, mas têm algo em comum: ambos querem aniquilar completamente uma democracia vizinha — aniquilá-la completamente. (…) Em Israel, precisamos garantir que eles tenham o que precisam para proteger seu povo hoje e sempre. O pacote de segurança que estou enviando ao Congresso e pedindo que ele adote é um compromisso sem precedentes com a segurança de Israel, que aguçará a vantagem militar qualitativa de Israel, com a qual nos comprometemos — a vantagem militar qualitativa.’2
Um ano depois do massacre do Hamas em Israel, o ainda Presidente Joe Biden reforçou a sua posição sobre o tema, reafirmando novamente o compromisso militar dos EUA para com Israel:
‘Ao pôr do sol, 7 de outubro tornou-se o dia mais mortal para o povo judeu desde o Holocausto. (…) O ataque de 7 de outubro trouxe à tona memórias dolorosas deixadas por milênios de ódio e violência contra o povo judeu. É por isso que, logo após o ataque, me tornei o primeiro presidente americano a visitar Israel em tempos de guerra. Deixei claro então ao povo de Israel: vocês não estão sozinhos. Um ano depois, a vice-presidente Harris e eu continuamos totalmente comprometidos com a segurança do povo judeu, a segurança de Israel e seu direito de existir. Apoiamos o direito de Israel de se defender contra ataques do Hezbollah, Hamas, Houthis e Irã. Na semana passada, sob minha orientação, os militares dos Estados Unidos mais uma vez auxiliaram ativamente na defesa bem-sucedida de Israel, ajudando a derrotar um ataque de míssil balístico iraniano.’3
Nesta ótica de defesa a Israel, outros democratas vieram a público defender a intervenção bélica dos EU por conta do Hamas. Barack Obama, que serviu como 44.º Presidente dos EUA e de quem Joe Biden foi Vice-Presidente (Partido dos Democratas), afirmou que apoiaria totalmente ‘o apelo do Presidente Biden para que os Estados Unidos’ apoiassem ‘o aliado de longa data na perseguição ao Hamas, no desmantelamento das suas capacidades militares e na facilitação do regresso seguro de centenas de reféns às suas famílias’4, naquilo que acabou por se revelar um massacre continuadamente patrocinado por dinheiros dos EUA ao longo dos últimos dois anos à Faixa de Gaza, segundo a comentarista e repórter Candace Owens (Partido dos Republicanos – MAGA)5 .
Inacreditavelmente, um ano após a manifestação favorável de Kamala Harris e Joe Biden à intervenção dos EUA em Gaza para que os reféns regressassem, é a própria vice-presidente Kamala Harris (acusada de fingir e caricaturar a sua identidade étnica para manipular o eleitorado afro-americano)6 que afirma estar de ‘coração partido’ com a própria ineficiência dos resultados que surgem em virtude das suas políticas externas, lamentando as ‘dezenas de milhares de vidas perdidas, crianças fugindo repetidamente em busca de segurança, mães e pais lutando para obter comida, água e medicamentos’7 na Palestina, como se a mesma não fosse a governante responsável pela sua própria incompetência e por nada fazer para que o objetivo principal da intervenção bélica fosse cumprido: trazer os reféns que o Hamas fez no dia 7 de Outubro de volta para casa, sãos e salvos. Durante o discurso, aproveitou a oportunidade para declarar que ‘passou da hora de um acordo de reféns e cessar-fogo para acabar com o sofrimento de pessoas inocentes’, deixando o imbróglio deste conflito, que se iniciou na Presidência Joe Biden, para ser resolvido por quem ganhasse as eleições presidenciais de 2024, uma vez que um mês depois deste discurso perderia oficialmente a eleição presidencial.
Kamala Harris não era uma política qualquer na cena americana, mas sim a vice-presidente de Joe Biden, que discursou em conjunto com ela a partir da Casa Branca no dia 7 de outubro de 2024, em memória do trágico evento que aconteceu um ano antes no festival de música Re’im. Não admira que a tentativa de resolução do conflito Hamas-Israel por parte da equipa Biden-Harris tenha sido prontamente caracterizada como uma ‘catástrofe´, pelo jornal Inglês The Guardian.8 Esta ‘catástrofe’ foi o suficiente para que Harris fosse criticada pelo vice-Chefe de Gabinete da Casa Branca quando ela reapareceu na esfera pública 100 dias depois de perder as eleições para o atual Presidente, Trump.
Para Stephen Miller, Harris ganhar as eleições teria significado ‘o fim da América’, 9 uma vez que sob a sua vice-presidência seriam os EUA que estariam agora a ser invadidos. Miller disse que com Joe Biden e Kamala Harris, os criminosos foram congratulados enquanto os cidadãos de bem foram marginalizados. Já Donald Trump tinha criticado anteriormente Kamala Harris quando a mesma o acusou de vir a fazer aquilo que, até agora, ainda não fez, como deixar Israel a lutar sozinha. Portanto, as críticas de Stephen Miller que dão a entender que Kamala diz uma coisa, mas faz outra, são contundentes. A verdade é que Kamala Harris é tudo menos precisa quando afirma, neste seu discurso de regresso à política, que a América de Trump abandonou os seus aliados; contrariamente ao esperado pelas vozes mais sonantes do movimento Make America Great Again, os bombardeamentos ao Irão comprovam exatamente o oposto: Trump está alinhadíssimo com o maior aliado dos EUA, Israel. Ou seja, apesar de todo o fogo de vista, a posição da América perante os aliados de sempre, nomeadamente dos aliados do partido dos democratas,10 manteve-se sob a Presidência de Donald Trump.
Se é verdade, no entanto, que se confirma assim que figuras proeminentes de ambos os lados do palanque político americano lutam pela causa de Israel (quer republicanos quer liberais), talvez seja surpreendente para o leitor que aquelas que mais se destaquem historicamente não sejam os apoiantes do movimento MAGA mas sim os democratas, onde se incluiu e destaca Hillary Rodham Clinton e o seu marido, o Presidente Bill Clinton. A ex-primeira-dama (Partido dos Democratas) e candidata em 2016 às presidenciais americanas, afirmou em 2023 que um cessar-fogo completo entre o Hamas e Israel........
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