A modorra
O Dr. Luís Montenegro não é uma pessoa desonesta. Nada me autoriza a entender que seja pouco sério na sua relação com a política e o cargo que desempenha, nem com os Portugueses. Mas foi imprudente e desastrado.
Imprudente, ainda que bem-intencionado, na maneira como manteve as avenças da empresa que tinha sido sua e ainda é da sua família. Desastrado, porventura mal aconselhado, na forma como lidou com o assunto, em especial na comunicação do passado dia 1 de março.
A principal imprudência, no que concerne as avenças, não tem que ver com os potenciais conflitos de interesses que nem serão relevantes ou não existirão. Percebe-se que o Dr. Montenegro tenha querido proteger a sua família, os filhos em particular, da sangria financeira que acontece sempre que um profissional abraça um cargo político. Mas, da forma como as coisas se desenrolaram, vai ser-lhe difícil, independentemente das questões jurídicas que venham a ser dirimidas, libertar-se da ideia, provavelmente falsa, de que havia um subterfúgio para escapar à exclusividade imposta pelo exercício do cargo de primeiro-ministro.
Logo, há uma reflexão que se impõe e de que ninguém quer falar. É preciso remunerar bem os governantes e de tal forma que se torne desnecessário, com destaque para as famílias em que o governante é o principal ganha-pão do agregado, a manutenção de qualquer esquema que salvaguarde rendimentos provenientes de trabalho ou de serviços prestados. Não se pode exigir que uma pessoa qualificada, com uma vida inteira de trabalho, tenha de prescindir de tudo e seja obrigada a optar por uma fortíssima redução de estipendio logo quando as responsabilidades pessoais e profissionais aumentam como consequência de assumir as funções de governante. Basta de demagogias e assumamos que é preciso pagar bem, muito bem, a quem nos governa ou é eleito para nos representar. O que não dispensa que as regras são as que são, quem lá está tem........
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