A Europa entre Haia e Washington
Na recente cimeira da NATO em Haia, os países europeus comprometeram-se a investir até 5% do PIB na Defesa, uma decisão com grande simbolismo político e estratégico. Pela primeira vez em muitos anos, vislumbrou-se a possibilidade de a Europa deixar de viver sob a tutela da proteção norte-americana e começar a construir a sua própria capacidade de defesa, tecnológica e industrial. Após anos de desinvestimento, a que Portugal não fugiu, abriu-se uma janela de oportunidade para corrigir décadas de atraso, revitalizar o tecido industrial ligado à defesa e reconstruir uma base tecnológica autónoma. Este compromisso poderia traduzir-se em investimento nas empresas europeias, em inovação dual-use com aplicação civil e militar, na criação de emprego qualificado e no reforço da coesão estratégica entre os Estados-membros. Parecia ser, finalmente, a hipótese de a Europa deixar de ser apenas um mercado consumidor de segurança para se tornar também produtora e garante da sua própria defesa.
O compromisso é claro: a Europa precisa de investir mais em segurança, sim, mas esse investimento deverá inaugurar um novo ciclo estratégico europeu, pondo fim a décadas de subfinanciamento crónico e dependência estrutural da proteção americana. A realidade da guerra na Ucrânia, a crescente instabilidade nos flancos sul e leste da Aliança e o regresso das ameaças convencionais, como a Rússia, exigem mais do que meros compromissos orçamentais: exigem capacidades reais, prontas e interoperáveis, exigem forças armadas operacionais bem treinadas, mais bem equipadas e exigem uma logística industrial que as sustente. Investir 5% do Produto Interno Bruto (PIB) na Defesa não pode ser apenas um gesto contabilístico, mas um impulso transformador que permita às forças da NATO responder de forma credível, eficaz e autónoma em cenários de dissuasão e de combate real. Só assim a Europa poderá afirmar-se como um parceiro seguro, robusto e leal dos Estados Unidos (EUA), contribuindo de forma equilibrada para o pilar transatlântico da segurança coletiva. Isto já para não falar do que os 1,5% daqueles 5% investidos diretamente........
© Observador
