Cada dia que passa sinto mais ódio (II)
Esta é a história de José, um pai alienado. Na semana passada revisitámos o seu testemunho com o episódio intitulado “O dia em que deixei de ver a minha filha”. Neste e nos próximos artigos, daremos continuidade ao percurso da sua vivência, passo a passo. Trata-se de um retrato cru e real de como a alienação parental é capaz de desfazer laços entre pais e filhos que deveriam ser profundos e duradouros.
José não esquece o último dia em que esteve com a filha Maria (nome fictício) sem supervisão. Guardava ainda a esperança de que aquela separação fosse apenas uma pausa forçada, um intervalo antes do reencontro. Mas essa pausa já dura nove anos. O que começou como uma “medida temporária” transformou-se numa barreira quase intransponível.
Como nos testemunhou o José: “Ali, havia de tratar da minha defesa, em termos judiciais, não perdendo a possibilidade, de acordo com a determinação do Tribunal de Família e Menores, de poder manter e conviver, com muitas limitações, seria certo, com a Maria, ainda que com supervisão da Segurança Social. Na realidade, no que cabia a poder manter convívio com a minha filha, essa possibilidade ficaria frustrada após o 4º encontro, todos eles muito tumultuosos e sempre com ela ladeada por duas técnicas de assistência social do Instituto da Segurança Social (ISS), que viriam a sistematizar todos os encontros em relatório ao Tribunal, informando, no último, que a criança teria verbalizado ‘cada dia que passa, sinto mais ódio, não quero estar com ele nunca mais, nunca mais’, tinha ela ali quase 9 anos, concluindo e informando as técnicas que não estavam reunidas condições para se realizarem mais visitas”.
Os encontros supervisionados, que em teoria deveriam permitir a reaproximação, transformaram-se em momentos de tensão e resistência. Do ponto de vista psicológico, este é um ponto crítico: quando a supervisão não é acompanhada de estratégias terapêuticas adequadas, corre-se o risco de reforçar a rejeição e cristalizar a hostilidade.
A frase da filha alienada, Maria, “cada dia que passa, sinto mais ódio”, é um exemplo típico de rejeição........
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