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“Podes-me deixar em casa da minha mãe”, coragem de uma filha

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29.06.2025

Esta é a história de Madalena, uma jovem emocionalmente sequestrada, afastada do vínculo com a mãe, vítima de alienação parental, um fenómeno ainda subestimado e muitas vezes difícil de identificar, mas profundamente destrutivo. Acontece quando um dos pais alienador (pai ou mãe) manipula a perceção de um filho para o afastar do outro pai/mãe alienado, instigando-lhe medo, distorcendo-lhe a realidade e negando-lhe os afetos como norma da sua vida quotidiana.

No caso de Madalena, o pai e a madrasta alienadores impuseram um regime de controlo psicológico que transformou a mãe num “bicho papão”, uma figura aterrorizante construída ao longo dos anos, sustentada por medo, chantagem emocional e mentiras. A Madalena foi ensinada a temer quem mais a amava e a afastar-se da mãe como quem foge de um perigo.

Madalena tinha 14 anos quando decidiu quebrar o ciclo de silêncio, do medo e da manipulação em que vivia. Foi o dia em que disse ao pai, com coragem e entre lágrimas: “Podes-me deixar em casa da minha mãe”. Essa frase, aparentemente simples, assinalou a mudança de uma história marcada pela alienação parental, uma forma sub-reptícia e devastadora de abuso emocional que separa filhos de um dos seus pais (pai ou mãe).

Madalena enfrentou o medo e a manipulação para contar, pela primeira vez em quatro anos, toda a verdade ao psicólogo que a acompanhava semanalmente. Era a última consulta. Como ela própria recorda: “Cheguei à última consulta e disse ao Dr. A., naquele dia, e disse que nos últimos tempos tinha fugido de casa duas vezes… uma delas durante mais de 24 horas… tentei suicidar-me.…”. Foi o ponto de rutura para Madalena, e também de coragem. Pela primeira vez, revelou que dizia sempre ao psicólogo o que o pai queria ouvir. Que era obrigada a memorizar perguntas e respostas. Que toda a sua narrativa era controlada: “Sempre que venho aqui, digo o que o meu pai quer. E quando saio daqui tenho de lhe contar todas as perguntas que o Dr. A. me fez e todas as respostas que lhe dei… Tudo o que nunca tinha contado, até ao fim da consulta.” E concluiu, com a serenidade de quem sabe o peso da verdade: “Pronto, ok, vou-me retirar, porque eu já nessa altura pensei: acabei de dizer tudo. Estava o caldo entornado”.

Quando Madalena finalmente quebrou o silêncio no consultório do psicólogo, iniciou-se uma cadeia de reações que culminou na tentativa desesperada do pai e da madrasta para manter o controlo: promessas, chantagens e dramatizações. Mas a decisão já estava tomada. A adolescente que antes via a mãe como o monstro da história, agora percebia que era exatamente no colo da mãe que poderia encontrar a segurança e a verdade.

Ao sair da consulta, Madalena entrou no carro com o pai e a madrasta. Madalena conta que o interrogatório começou de imediato, como sempre: “Chego ao carro depois do psicólogo: O que é que disseste ao Dr.?, o que é que disseste ao Dr. A? fiquei calada na mesma, caladinha, caladinha até chegar a casa, chegamos a casa, sentamo-nos no sofá e perguntaram: O que disseste?….o que falaste (hoje com o psicólogo))…..tu estás mal….porque é foste falar com estes rapazes?….porque é que isto….? porque é que aquilo…..? “. Madalena nesse dia, decidiu não falar:........

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