Viva o Pai!
Dizem que um homem é óptimo a fazer: “hum, hum…” e a não escutar. E, muitas vezes, que não pensa. Dizem que, seguramente, nunca consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo. E que, como pai, é único na forma como se disfarça de distraído. Dizem que faz de conta que não ouve e que, por isso, nunca acorda com o choro do seu bebé. Que não prepara a marmita das crianças. E que mal sabe o nome de todos os amigos dos seus filhos.
Dizem, também, que se os homens pudessem estar grávidos a humanidade terminaria logo a seguir. Dando-se a entender que eles jamais resistiram à provação que uma gravidez acaba por trazer. Como se um homem não fosse capaz de conviver com mudanças, grandes e tumultuosas. E fosse incapaz de amar perdidamente. Com um desprendimento que o reinvente, todos os dias.
Dizem que um homem não se comove. Que tem muitas dificuldades a manifestar os seus sentimentos e a falar deles. Que não é capaz de rir, até as lágrimas. Nem, sequer, de chorar, de mansinho, no cinema. E que, ao contrário da mãe, não salta nem esbraceja nas festas de Natal (para que um filho, no meio do escuro, nunca se sinta sozinho).
Diz-se, também, que, como pai, não conta histórias. E que a sua voz (grossa) casa de forma desajeitada com as canções de embalar. E, sempre que a mãe e o pai se zangam, diz-se, “regra geral”, que ele é o vilão. Havendo inúmeros tribunais que, duma forma muito “normal”, continuam a achar que o pai é um produto de segunda necessidade para a vida de qualquer criança .
Num mundo que reclama pela paridade e a premeia, não deixa de ser desconcertante este zunzum sexista; que se repete. Como se a discriminação por identidade de género em relação ao pai não se tornasse injusta. Mas, antes, fosse quase genética. E, portanto, tivesse o seu quê de “natural”.
Mas se ser hoje homem é, muitas vezes, propício a mal-entendidos, ser pai não é, muitas vezes, mais fácil.
Eu acho que nem todas as mulheres suportariam com grande facilidade serem pai por muito tempo!
E, a partir da anunciação do seu bebé, passar-se a ser segunda figura. A ponto de ainda haver quem engelhe o nariz quando se fala da gravidez do pai. De ninguém se colocar no lugar dele e reconhecer que a sua presença numa consulta de obstetrícia é, muitas vezes, muito difícil e constrangedora. Ou do que é passar-se a ocupar, aos pouquinhos, menos espaço, e estar-se atento, e estar-se........
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