menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Vaidade nas frases feitas

7 1
yesterday

Pode não parecer, mas o orgulho resulta da gratidão. Sobretudo porque o orgulho é uma conquista sobre uma dificuldade, a que se chegou com a ajuda de alguém. Já a vaidade é um triunfo solitário que se usa para se vincar a supremacia sobre os outros. É claro que, nalguns momentos, todos somos um bocadinho vaidosos. Mas aquilo que vale é a forma como o orgulho ou a vaidade predominam sobre o que somos. O orgulho casa com a humildade. A vaidade é um grito de triunfo sobre a dependência. (Por mais que, sem os outros a olhar, a vaidade seja uma petulância envergonhada).

As pessoas vaidosas parecem precisar de ser adoradas porque nunca se sentem amadas ao nível da perfeição que elas exigem. São exigentíssimas com aqueles de quem “gostam” por mais que nunca retribuam da forma como exigem. Não toleram qualquer reparo que se coloque sobre si. E tão depressa são os protagonistas duma conversa como quando isso não acontece se entrincheiram num silêncio amuado, que inquina qualquer relação. Têm uma dificuldade inimitável para reconhecerem — por uma vez, que seja — a culpa de qualquer coisa que tenham feito. E não só não a reconhecem como a projectam sobre os outros sempre que se fazem de vítimas. Elogiam muito facilmente, como forma de condicionar, antes de ouvirem. E mascaram a vergonha com a altivez e a arrogância.

A vaidade humana, como traço de carácter, nunca deixou de existir. Mas quando falamos de carácter estamos a falar duma perturbação de personalidade que, a bem da verdade, representa uma doença mental que se urbanizou e, com isso, disfarça toda a perturbação que guarda em si.

Nos tempos que correm, a vaidade humana deixou de se chamar, tão a preceito: vaidade. Dilui-se pela vaidade das pequenas coisas. Parece ser uma espécie de vaidade com PH neutro. Menos espalhafatosa. Mais transversal. Mais afectada. Dantes, aqueles que se barricavam numa vaidade aberta chamavam-se vaidosões. Agora, àqueles que se envolvem nesta vaidade mais diluída talvez possamos chamar vaidosinhos. Dantes, à vaidade a psicanálise chamou-lhe narcisismo. Mas, hoje, a vaidade faz-se de frases feitas. Embrulha-se, por exemplo, no conceito de auto-estima. Que........

© Observador