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O meio do nada

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01.04.2025

E, depois, do meio do nada, surgem instintos e sensações. Reflexos e percepções. Emoções, sentimentos e memórias. Curiosidade, espanto e indagação. Raciocínio, pensamento lógico, abstracção e perspectiva. Intuição, imaginação e fantasia. Histórias e ideias. Todos os conteúdos a concorrer uns com os outros. Todos ao mesmo tempo! A processar informação, a centenas de quilómetros por hora e a biliões de impulsos nervosos por segundo. Analisando, em tempo real, tudo o que se passa, e avaliando, ao mesmo tempo, pensamento e corpo, a relação e os contextos social e histórico onde se vive. Na maior parte das vezes, esses conteúdos alinham-se uns com os outros. “Encaixam-se”, articulam-se e transformam-se em conhecimento. Noutras, até porque estamos a falar de níveis de conhecimento uns mais arcaicos que outros, geram informação que não se “encaixa”. E criam uma espécie de “bugs”. “Buracos” sem sentido entre coisas que se ligam. Essas dúvidas, que geram mal-estar, ficam numa espécie de arquivo de coisas por pensar. Algumas delas aguardam, por vezes anos, para serem percebidas. A seguir, há, ainda, a nossa história, os nossos estados de humor, a cultura e as influências religiosas que acabamos por ter. Que nos condicionam na forma como pensamos. Que, depois de fazermos “check, check, check”, nos levam a sentir que há coisas que geram desconforto ou nos magoam. E que ganham se forem reprimidas. Contidas. Controladas ou censuradas. Ou, inclusive, recalcadas (empurradas para lugares na memória onde fazemos por esquecer). Porque esta miríade de coisas se passa sem que estejamos, voluntariamente, a orquestrar tudo isto, acabamos por falar de inconsciente. Que é uma forma de dizer que a consciência das coisas que analisamos e a consciência do que estamos voluntariamente a pensar andam, na maior parte das vezes, a duas velocidades.

Tudo o que se passa no sistema nervoso é consciência. Alguma, será mais esclarecida. Outra, mais rudimentar. Por mais que estes níveis de consciência, que concorrem uns com os outros, nos ajudem a perceber que a primeira função do sistema nervoso é, antes de mais, produzir contraditório. Conflito, se preferirem. Para que, só depois, isso nos puxe para pensar, numa espiral infatigável a que se pode chamar pulsão de vida. Seja como for, a função essencial do sistema nervoso é trazer-nos ao conflito e associar informação. Ver as mesmas coisas de vários pontos de vista. E tudo isso é pensar. No final, esta linha de produção de pensamentos, altamente fiável — desde a emoção mais........

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