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O clube das conversas impecáveis 

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04.08.2025

É fácil perdermos tempo. Sobretudo se consideramos os inúmeros apelos à nossa atenção que, a qualquer momento, nos desafiam para olharmos para eles todos, a toda a hora, ao mesmo tempo. A pergunta que me coloco é se será possível perdermos tempo sem nos perdermos no tempo. Ou sem nos desencontrarmos dele. Sem nos perdermos de nós, afinal. E eu acho que não.

A proporcionalidade entre o modo como perdemos tempo e a forma como nos vamos desconhecendo de nós próprios parece-me razoavelmente clara. E entre a forma como perdemos tempo e vivemos numa ansiedade permanente, também. Olhando com atenção, a ansiedade não resulta senão das coisas que não deixamos de perceber e que, teimosamente, insistimos em não reconhecer e em não pensar como nossas. É por isso que a ansiedade é a linha que separa a saúde da doença mental.

Somos, portanto, inacreditavelmente competentes para conhecer. E, de forma desconcertante, estranhamente desconhecidos de nós próprios. O que, feitas as contas, nos ajuda a perceber que, ao contrário do que supomos com insistência, talvez não sejamos, do ponto de vista da saúde mental, tão saudáveis como imaginamos ser. Vendo bem, somos todos um bocadinho doentes mentais.

Noutro dia, no meio dum programa de rádio, a Judite falou-me da fantasia como uma característica claramente infantil. Tudo porque uma ouvinte nos tinha escrito, rendida e apaixonada a essa qualidade que reconhecia no seu filho, muito preocupada com a discrepância entre a fantasia e a capacidade de ilusão do mundo dele e o mundo real. Dizia-nos essa mãe que tinha imenso medo que, depois de imerso no mundo real, aquele filho perdesse a ilusão. E, sem ela, se desencontrasse da felicidade. E se tornasse (demasiado) adulto.

Olhando com mais atenção, a fantasia não é a única característica que associamos claramente à infância. Afinal, também a liberdade diante da surpresa, da curiosidade, do espanto e do encanto fazem parte dela. Como a ingenuidade, que é o contrário do preconceito. E a ternura. Ou a total abertura para nos vermos, a todos, como pessoas........

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