Mudar depressa ou devagar
Mudamos quando somos obrigados a mudar. Foi assim na pandemia. É assim quando nos defrontamos com um encantamento por uma pessoa quando estamos casados com outra. Ou quando ficamos doentes ou nos deparamos com o desemprego. O estranho disto tudo é que são inúmeras as circunstâncias em que todos já nos deparámos com pessoas que assumem que há males que vêem por bem. Querendo com isso dizer que se não tivessem sido as circunstâncias que as coagiram à mudança nunca teriam tomado as decisões que as levariam a ela. Num outro registo, são também imensas as vezes em que nas empresas ou nas mais diversas organizações se fala, com ênfase, da resistência à mudança. Como se se dissesse que todo o mundo é composto de mudança; mas, todavia, as pessoas preferissem não mudar. Escolhendo o certo ao incerto. Mesmo que o certo seja entediante, cansativo ou mortificante. Ou por mais que o certo as impeça de mudar. E não mudar signifique não crescer.
A forma como se resiste à mudança representa uma recusa deliberada de aprender. Não a propósito das mudanças superficiais que se fazem de fora para dentro. Que trazem comportamentos miméticos – muito deles, virais – que não são mudança mas imitações orquestrados, muitas vezes resultantes de respostas por impulso. Que resultam da sedução, da persuasão, da intimidação ou da manipulação.
A questão será, então, partindo daquilo que somos, e que tomamos como um património inviolável de experiências, porque é que se torna tão difícil mudar comportamentos, por mais que isso seja a consequência de estar vivo?
Mudar de ideias ou mudar de opinião é, grande parte das vezes, mais fácil do que mudar comportamentos. Sobretudo porque se confunde o mudar de ideias, que resulta das interpelações que aceitamos no nosso pensamento, que não é fácil nem indolor, do mudar volátil das ideias (na política, por exemplo) onde aquilo que hoje é verdade amanhã poderá ser mentira, sem consequências e sem vergonha. Na maior parte das vezes, este mudar volátil de ideias é sentido como sinónimo de excessiva leveza, de inconsistência, de incoerência ou, até, de alguma labilidade de carácter.
Mas nos tempos que correm, fala-se do desenvolvimento humano como se ele estivesse assente na mudança (superficial) de comportamentos. Como se ela estivesse ao alcance dum clique. A ideia em si representa meia-verdade: se considerarmos, por exemplo, a doença como muitos comportamentos cheios de viés pouco amigos da saúde, promover a saúde é, de facto, estimular a mudança de comportamentos. Por mais que as imagens chocantes no verso dum........
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