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A beleza interior

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23.09.2025

É simplista em excesso; eu reconheço. Mas há pessoas bonitas, pessoas feias e pessoas “normais”. Seja como for, na maior parte das vezes, pergunto-me onde podemos encontrar, entre todas as pessoas que conhecemos, mais pessoas bonitas. Claramente bonitas. Que se destaquem, mesmo que não façam nada para isso. À medida que ficamos mais velhos parece tornar-se muitíssimo mais difícil encontrarmos pessoas bonitas. E, em muitos momentos, pergunto-me porquê.

A primeira hipótese será: sempre que envelhecem, as pessoas ficam mais feias. É linear. E preguiçosamente aceite como mais ou menos inevitável. Se bem que não seja rigorosamente assim. A maior parte das pessoas não ficarão mais feias unicamente porque fiquem mais velhas mas porque se tornam mais agrestes, mais ressentidas, mais desencantadas e fugidias, e mais embrulhadas em banalidades! Ainda assim, há pessoas – raríssimas, todavia – que quanto mais velhas se tornam mais bonitas acabam por ficar.

A segunda hipótese, pode não deixar, igualmente, de se colocar: temos mais dificuldades de encontrar pessoas bonitas porque a nossa sabedoria se torna tão mais educada e tão mais atenta ao pormenor que o crivo com que lemos a beleza fica mais exigente. É verdade, ainda, que se pode perguntar se, em vez da beleza, não andaremos à procura da perfeição. E eu acho que não. Toda a beleza é rara! Mas ela não se descobre numa atmosfera etérea. Sem contradições, sem dúvidas ou sem conflitos. A beleza é interpelante. Mas não existe à margem de tudo o que é humano. Como dos erros, por exemplo. E das pequenas coisas feias que não deixa de haver em todos nós.

A terceira hipótese é que talvez procuremos, tacitamente, a beleza nos outros que nos falta a nós. Como se, já agora, as nossas exigências fossem maiores para a beleza deles do que para a forma como deixamos que a nossa beleza interior se esboroe, devagarinho. Como se a beleza duma pessoa devesse valer por ela e por nós, ao mesmo tempo. Acresce, ainda, que, às vezes, procuramos no outro a validação da beleza que supomos ter mesmo que façamos muito pouco por ela. Quando é assim, não procuramos a beleza. Mas a nossa vaidade.

Com a quarta hipótese, talvez voltamos ao linear: a juventude é uma espécie de pó de arroz.........

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