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Temos de voltar para a Ilha

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27.07.2025

Existirão no mundo poucos fenómenos mais vexatórios do que a cobertura noticiosa portuguesa dos assuntos que ocupam a agenda política e cultural norte-americana. Como, por compromisso e ócio, são decalcados fielmente dos seus congéneres internacionais, e portanto já filtrados em conformidade pelos agenda setters, contêm em si o mesmo enquadramento dos demais – que, como qualquer pessoa com um pingo de atenção sabe, é um enquadramento profundamente desonesto e pró-oligarquia. A este já trapaceiro viés junta-se uma atroz ignorância dos assuntos em causa e uma constrangedora infantilização do leitor, e temos assim o cocktail perfeito de desinformação.

O caso de Jeffrey Epstein é, neste sentido, particularmente intrincado. Apesar das clamorosas evidências, o seu carácter eminentemente holiodesco, o melindre do tópico da pedofilia e o condicionamento para a subserviência levaram sempre a uma instintiva repulsão de qualquer referência ao caso para as franjas obscuras do submundo conspiracionista. Seria de esperar que, quando estão em casa milhares de menores que foram vítimas de inenarráveis abusos sexuais, houvesse um pouco mais de tento na defesa incondicional da oligarquia. Porque os factos, esses, são inamovíveis: durante décadas, Jeffrey Epstein – uma misteriosa figura, que ninguém sabe muito bem de onde surgiu (uma opacidade compatível com o padrão de espião estrangeiro), íntima da elite política e financeira mundial — traficou raparigas menores para serviços sexuais, utilizando a sua ilha privada, a ilha Little St. James, nas Ilhas Virgens Americanas, como centro de operações e horrores, numa colossal e mediática rede de pedofilia. Segundo o testemunho de inúmeras vítimas (algumas entretanto “suicidadas”, como ainda este ano Virginia Roberts, que provavelmente tomou a decisão de se matar por se sentir tão culpada por ter mentido sobre os pobres injustiçados),........

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