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Porque sou patrono do Observador

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25.02.2025

Existem abundantes evidências de que, para a entender a complexidade do ser humano enquanto agente histórico individual ou grupal, não basta estudar o contexto político, militar, diplomático, social ou económico em que esteja inserido. A mentalidade, a psicologia, a cultura e, com elas, a as artes decorativas e os materiais arquivísticos, constituem pormenores nada despiciendos. Nenhum detalhe é de desprezar, desde que relevante para uma narrativa bem cerzida.

Nas décadas de 1970 e de 1980, aquelas em que primeiro comecei a assimilar informação sobre o mundo em que me inseria, o planeta ainda continha realidades culturais tão anacrónicas quanto o imperador da Etiópia (até 1975) e o xá da Pérsia (destronado em 1979). Por outro lado, acontecimentos como o casamento de Lady Di, em 1981, a vinda do papa João Paulo II a Portugal e o falecimento da princesa Grace do Mónaco, ambos em 1982, ou a morte de Hergé, pai de Tintin, em 1983, representam epifenómenos hoje incompreensíveis para as novas gerações. Obrigando a um esforço de descrição multidisciplinar, com recurso às ferramentas sociológicas e antropológicas que Umberto Eco e Michel Foucault tão bem manejavam.

Os casamentos de sonho entre plebeias e monarcas (imperadores, reis, príncipes e grão-duques) são tão velhos quanto a história da humanidade, conforme o provam os filmes da Disney, e esse livro fascinante, escrito por Bruno Bettelheim, que é a Psicanálise dos contos de Fadas. No caso do século XX, os enlaces grandiosos dos últimos xás da Pérsia, dos príncipes do Mónaco, dos reis da Jordânia e dos príncipes de Gales, entre 1959 e 1981, encheram de glamour, cor e pitoresco páginas dos jornais e das revistas, bem como de júbilo corações de súbditos, de monárquicos e de republicanos de todo o mundo. Veja-se, a esse propósito, a reportagem da jornalista Carolina Carvalho De Paris para a Jordânia e para o Mónaco. Os vestidos de Noor e Carolina, as noivas reais do verão de 1978 – Observador.

Outro nicho fecundo de reportagens do Observador é aquele que cobre as visitas de Estado a Portugal e os exílios de soberanos estrangeiros em terras portuguesas, de que esta notícia, por Sâmia Fiates, é um dos mais recentes exemplos. Nela, a jornalista apresenta a estadia de Henri de Orleães e Isabelle de Orleães e Bragança, condes de Paris, na Sintra de 1947, enquanto causa remota de aquele matrimónio se vir a realizar no nosso país.

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Quanto à mítica estadia de Isabel II e do duque de Edimburgo em Portugal, em 1957, e da recepção que lhe é feita pelo Estado português e pelos duques de Palmela, é objecto de artigo, em 2022, de Maria Salgueiro, disponível aqui. Os ecos desses dias ainda perpassam pelo Portugal de 2025, de certo modo nostálgico de uma era em que a hipótese de restauração, por Salazar, da monarquia, não se encontrava totalmente colocada de lado.

A visita dos príncipes do Mónaco, Rainer e Grace, em 1964, é evocada por Carolina Carvalho em Missa em Fátima, almoço em Queluz, estadia no Ritz. Quando Rainier e Grace do Mónaco passaram férias em Portugal – Observador. Um passado recente, pleno de nostalgia e de graça, de autenticidade e da pátina dos tempos, é recordado com o sabor de uma escrita cuidada e de fino recorte, a qual entretém e educa, ao ritmo do jornalismo de outros tempos, em que o público consumia papel impresso com uma voracidade........

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