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Morte às mãos dos extremos

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sunday

Há um fio invisível, mas inquebrantável, que liga a pulsão pelo absoluto à negação da vida. Onde se procura a pureza total, onde se reclama a perfeição sem mácula, aí já não se quer reformar o mundo: quer-se, secretamente, extingui-lo. Assim, tanto na política como na arte, o apelo aos extremos não é apenas uma desordem do juízo, mas uma forma velada de desprezo pela condição humana, essa condição de mistura, de imperfeição e de limite. Com efeito, a vida, enquanto manifestação orgânica e social, é feita de compromisso, de variação, de gradações infinitas. A vitalidade reside precisamente na tensão entre contrários, na mediação de opostos, na fecunda imperfeição do inacabado. Ora, o extremismo, em qualquer das suas expressões, repudia essa ambivalência fundadora: quer uma ordem sem fissuras, uma verdade sem sombra, uma comunidade sem conflito. E ao fazê-lo, suprime aquilo mesmo que torna a existência possível.

O extremista, seja ele o fanático político, o vanguardista estético ou o moralista absoluto, recusa o drama da vida real. Não aceita........

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