Escolas do Ensino Artístico Especializado
Em várias regiões do país, a presença de uma escola do Ensino Artístico Especializado continua a ser, ainda hoje, uma das únicas formas de acesso regular a experiências culturais exigentes e diversificadas. Onde não existe uma rede consistente de programação promovida por teatros, municípios ou agentes privados, são estas escolas que asseguram, com persistência, o contacto da população com práticas artísticas que, de outro modo, estariam ausentes das vivências quotidianas das comunidades. Noutros contextos, onde a oferta cultural já se tornou mais diversificada e regular, não é raro que isso tenha acontecido precisamente porque a ação continuada das escolas do EAE, ao longo de anos, criou hábitos, estruturas, parcerias e públicos que tornaram possível essa mudança. Os concertos, recitais e apresentações promovidos com alunos, professores ou artistas convidados passaram a marcar a agenda da vida local e a envolver públicos diversos — famílias, vizinhos, crianças de escolas do ensino regular, idosos de instituições sociais e muitos outros habitantes que, por via direta ou indireta, passaram a integrar o espaço simbólico e físico da escola como lugar de cultura acessível e de qualidade.
Este papel tem sido sublinhado por estudos independentes, como o Relatório de Avaliação do Ensino Artístico coordenado por Domingos Fernandes (atualmente presidente do Conselho Nacional de Educação) e publicado em 2007. Apesar de datado, este estudo continua a oferecer uma leitura atual e pertinente do setor. Nele, refere-se que as escolas “têm também uma função cultural muito importante, ao promoverem o acesso de um conjunto significativo de alunos e das respetivas famílias a experiências culturais com elevado valor formativo e artístico”. O documento mostra ainda que, para muitos alunos e comunidades, estas escolas funcionam como “únicos contextos de contacto direto com a arte e a cultura, com tudo o que isso representa em termos de abertura intelectual, sensibilidade estética e cidadania”.
A apresentação regular de concertos e recitais introduz um ritmo cultural na vida das comunidades. Em localidades onde a programação artística é escassa ou inexistente, estes momentos passam a marcar o calendário coletivo. As pessoas sabem que há música ao vivo na escola, que há propostas artísticas com........
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