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O Programa de Ajustamento norte-americano

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17.04.2025

A economia dos Estados Unidos enfrenta atualmente desequilíbrios macroeconómicos significativos, manifestados em três frentes principais: 1. uma dívida externa histórica; 2. deficits comerciais crónicos; e 3. uma inflação elevada:

Em suma, os EUA continuam a importar muito mais do que exportam, financiando a diferença com dívida e venda de ativos a estrangeiros, uma tendência que é insustentável a longo prazo.

Em suma, a economia norte-americana depara-se com dívida elevada, deficits externos continuados e inflação recente elevada, indicando que se estão a acumular vulnerabilidades estruturais exigindo ajustes profundos.

Consciente destas dificuldades, o Presidente Joe Biden procurou, logo no início do seu mandato, impulsionar a recuperação pós-Covid e enfrentar alguns destes problemas macroeconómicos. A peça central da sua estratégia foi o American Rescue Plan (ARP), um pacote fiscal de 1,9 biliões de dólares lançado em março de 2021. Este plano de resgate visava acelerar o crescimento económico e aumentar o emprego através de transferências massivas para famílias, empresas e governos estaduais e locais. Incluía, por exemplo, cheques diretos às famílias, expansão de subsídios de desemprego, apoios a estados (cerca de 350 mil milhões) e municípios altamente endividados, e financiamentos adicionais para escolas (122 mil milhões)​, numa altura em que muitas permaneciam encerradas.

Tratou-se de um estímulo da procura agregada de magnitude histórica, justificado pela administração Biden como necessário para assegurar uma recuperação inclusiva e “construir uma nova normalidade” de crescimento mais equitativo. Nas palavras da sua equipa, Biden pretendia alcançar um “novo equilíbrio de maior produtividade, maiores salários e crescimento económico mais robusto” através desta intervenção pública ativa​. No entanto, o ARP rapidamente suscitou críticas de economistas preocupados com o risco de sobreaquecimento da economia. Scott Bessent – um investidor e estratega económico influente que viria a tornar-se conselheiro de Donald Trump e é atualmente Secretário do Tesouro, ou seja, o Ministro das Finanças dos EUA – foi particularmente incisivo em diagnosticar os problemas da abordagem Biden. Em primeiro lugar, argumenta Bessent, o contexto em que o ARP foi aplicado não justificava um estímulo fiscal dessa magnitude. Contrariamente às recessões convencionais, marcadas por forte subutilização de recursos, a crise pandémica de 2020 tinha características diferentes: não havia um hiato substancial do produto no início de 2021, pois a recessão resultou de confinamentos temporários e não de falta de procura ou de investimento​. Com a reabertura económica e o lançamento das vacinas, a economia já estava a recuperar vigorosamente no fim de 2020 – o PIB real crescera 33,1% (taxa anualizada, Bureau of Economic Analysis, BEA) no terceiro trimestre de 2020 e 4,0% no quarto trimestre (BEA), e a taxa de desemprego caíra de 14,8% em abril de 2020 para 6,7% em dezembro desse ano​. Ou seja, grande parte da capacidade produtiva permanecia intacta e em rápida reativação. Nesse cenário, lançar um estímulo fiscal adicional, de quase 2 biliões USD, significou exagerar na dose de procura........

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