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Geopolítica do Islamismo Político na Europa

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31.10.2025

1 Em França, um conjunto de altos funcionários (cujo número e nomes não foram divulgados) foram encarregados em abril de 2024 por Macron, na qualidade de presidente do Conselho de Defesa e Segurança Nacional – que abarca os ministros do Interior, Assuntos Exteriores e Defesa – de uma missão: avaliar a órbita/área de influência da Irmandade Muçulmana e do islamismo político em França. “Esta missão deve formalizar, por via de um vetor distinto da produção habitual dos serviços de informações ou dos trabalhos de investigação académica, um relatório que clarifique a ameaça que coloca o “entrismo” islamista em termos de segurança e de coesão nacional.

Entrismo” (do francês “entrisme”) é um termo técnico que define a tática de inserção organizada em instituições ou movimentos já existentes — partidos, sindicatos, associações, conselhos municipais, escolas — com o objetivo de influenciar, por dentro, os seus objetivos, decisões, e distribuição de recursos, sem declarar publicamente a agenda integral de quem o promove. O termo foi cunhado no meio trotskista no séc. XX para descrever a entrada de militantes em partidos maiores a fim de os reorientar, e o seu modus operandi típico consiste na filiação formal, conquista de cargos secundários, domínio de comissões, produção de normas internas e alianças de conveniência; e só depois de assegurar o controlo se procede à tentativa de mudar a orientação geral. Difere do “lobbying” ou “infiltração” porque estes atuam de fora, declarando interesses, enquanto o “entrismo” atua internamente, recorrendo à opacidade de objetivos e operando pela via legal. O “entrismo” opera por dentro das instituições, geralmente seguindo as regras formais da organização, mas com uma finalidade estratégica distinta da missão original desta. No contexto do islamismo político, o termo é usado para descrever estratégias de presença prolongada em estruturas locais (associações, educação, mediação comunitária, conselhos consultivos), visando a influência normativa e o acesso a financiamentos, sem recurso à violência.

A novidade deste estudo francês reside em proceder-se ao diagnóstico e análise, não da ameaça terrorista islâmica, mas do risco de influência legalista e institucional que, operando por vias formais — político-associativa, educativa e municipal — pressiona a coesão cívica e a neutralidade do Estado francês. A missão deslocou-se a quatro países europeus e a dez departamentos franceses e ouviu mais de duzentas pessoas (serviços do Estado, protagonistas do culto, universitários, ensaístas, eleitos, diplomatas) e o relatório final, na sua versão pública de 75 pgs., intitulado “A Irmandade muçulmana e o Islamismo Político em França”, foi publicado em 21 de maio de 2025 pelo Ministério do Interior francês.

Segundo o respetivo “Dossier de Presse”,O relatório põe em evidência uma ameaça grave, marcada por um duplo discurso que combina entre si dissimulação e respeito aparente das regras, com o objetivo de substituir a pertença à comunidade nacional por novas formas de lealdade em rutura com a tradição republicana [francesa] e demonstra a necessidade de sensibilizar o grande público e os decisores públicos para a realidade dessa ameaça. Com base nas recomendações formuladas no relatório, o Conselho de Defesa e de Segurança Nacional [francês], reunido em 21 de maio de 2025, apresentou as primeiras orientações que conduzirão à implementação de um plano de ação nacional”. O relatório “foi classificado para proteger fontes que não........

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